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Cronicas-->O lobista e a pasta 007 -- 27/02/2003 - 08:00 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O lobista e a pasta 007
Domingo passado, pela manhã, enquanto mulher e filhos rezavam missa, desci do meu escritório para o café e deparei-me com os jornais do dia e a revista semanal. Peguei logo a revista. Completaria duas semanas que não a recebia. Mas apenas a folheei. Parti para a leitura do jornal, por ser uma leitura mais volátil. Logo interrompi a leitura. Detive-me a observar atentamente a capa da revista. Trazia em destaque uma maleta de executivo. Na hora, lembrei-me do Jorge.
O sonho de todo homem é ter uma pasta como aquela - de couro e ferragens dourada. Ela estava aberta. No primeiro compartimento da tampa, guardava uma fita papel de máquina de somar, umas cinco fichas e quatro pacotes de dólares, separados por notas de 10, 20, 50 e 100. Numa presilha transversal, um marca texto e nas duas bolsinhas, dois bilhetes dobrados e dependurado sobre uma das bolsinhas um crachá. Sinceramente! Aqueles pacotes de dólares não me impressionaram nem um pouco. Havia visto a pasta do Jorge. Como Jorge é um profissional bem-sucedido não fiquei surpreso.
Os objetos que estavam no compartimento principal da pasta denunciavam um profissional de sucesso. Sobressaindo, havia uma agenda com anotações em caligrafia legível, sem borrões, como de quem escreve pensando; uma fita de vídeo; três disquetes de 1,44 MB; uma fita de micro cassete. Abaixo da agenda, dava para ver um jornal. Contíguo ao jornal, uma petição em papel ofício, carbonos e outros papéis. Aquele pacotinho de nota de 50 dólares que estava no meio dos objetos não estava ali por acaso. Pelo contrário, estava em uso. Ou seja: organização precisa de um profissional de bom gosto. Mais uma vez, para mim, nenhuma novidade. A propósito, se a pasta fosse comparada com a de Jorge, dispensava-me de maiores explicações.
Lembra do meu amigo Jorge? Por volta de 1980, Jorge descobriu a profissão de lobista. Conseguiu emprego, como administrativo, num escritório de representação, em Brasília, da B. American Tobago. (Não confunda com a BAT - B. American Tobaco, subsidiária da Souza Cruz). Desenvolveu-se, foi promovido, chegou a diretor. Pois bem! Este escritório, evidentemente, além de defender os interesses corporativos da empresa junto aos três poderes, funcionava também como relações públicas. A eficiência do seu corpo técnico era indiscutível. Minutava projeto de leis, decretos-leis, portarias... Não era raro, escriturário fiscal de baixo escalão, ter conhecimento de determinada legislação, sem que a mesma fosse publicada no diário oficial. Jorge, profissionalmente, cresceu ali, fez parte do jogo. Conquanto, empregado na iniciativa privada, especializou-se no trato com a coisa pública. Tinha trànsito livre em todos os gabinetes e dispensava o crachá.
Passados vinte anos, mudaram governos, mudaram políticas. Por causa dessas mudanças o escritório foi desativado. Mas as pessoas não mudaram. Se mudaram, quando muito de pai para filho. Desempregado, Jorge resolveu montar o seu próprio negócio. Trànsito livre nos três poderes era o bastante. O seu trabalho, basicamente, era intermediar concessões, licenças, coisas do gênero, que se confundem entre o público e o privado. Sucesso absoluto! Em poucos meses tinha uma clientela invejável. Empresas, nacionais, multinacionais, transnacionais faziam parte de sua carteira.
Juro que quando vi aquela pasta na capa da revista pensei ser a de Jorge. Fui direto à matéria. A agenda foi o alvo principal. Havia nomes de pessoas importantes: ministros, deputados, empresários, etc. e etc. Mas o que há de erro nisso? O alvo do lobista é as pessoas influentes. Se vires um lobista a fazer feira é porque também a mulher do ministro a faz. Ative-me às anotações da agenda. Não sei se - no íntimo -, queria imiscuir na vida particular do dono como se ele fosse o Jorge ou se de fato queria ver se havia algumas anotações que pudessem comprometer alguém. Coloquei óculos de leitura. Mesmo assim não consegui ler. Peguei uma lupa. Perscrutei detalhes da agenda. Li algumas informações importantes, como as obras de construção civil do Projeto Sivam e as negociações para compra de Miragens 2000... mas qual é a astúcia do lobista senão as fontes de informações? Estaria ele habilitado em alguma disciplina de adivinho? Eu, se encontrasse na agenda um capítulo comentado da história do Chapeuzinho Vermelho, ficaria mais receoso.
Com a lupa, bem devagar, procurei detalhes na maleta. Aproximava-a e distanciava-a dos meus olhos. As letras cresciam e diminuíam. Mais uma vez, não consegui ler algumas anotações. Pareceu-me que foram intencionalmente mal publicadas. Talvez para não diminuir a importància da agenda como um objeto - essencialmente - privado. Bati, mais uma vez, a lupa num documento. Notei que era uma petição. Li alguma coisa. Mas não havia nada que não pudesse ser produzido num escritório qualquer de advocacia. Enfim, do que estava dentro dela, o que mais atraía era o objeto de desejo de todos os homens - as notas de dólares.
Esqueci o jornal, abri a revista, li os artigos assinados, e, em relação à matéria de capa, pouco me ative. Tornou-se comum ministros, senadores, empresários, executivos serem personagens de contos fantásticos, com "meias verdades", publicados pelas revistas, ou em busca do sensacionalismo ou para defender interesses de seus donos. As matérias de corrupção, após cumprirem essas finalidades, caem no esquecimento. Ao findar a leitura, me dei conta de que a revista fora editada no mês de outubro do ano passado. E que entraria na terceira semana sem receber nova edição. Na edição de outubro o personagem principal era um tal de Alexandre, o lobista. Hoje, fevereiro, constato por outras fontes que o personagem principal é Jader. Tome cuidado, Jorge! O próximo pode ser você.
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