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Cordel-->O sertão nordestino num atraso secular-silas silva -- 28/04/2006 - 15:58 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O Sertão Nordestino num atraso secular
Silas Silva*


Veja o que deu o jornal
Aumentando o desengano
Não chove mais este ano
Em nenhuma zona rural
Dentro da previsão astral
Nem uma nuvem escura
Virá à terra a procura
Trazendo raio nem trovoada
A natureza ta reprovada
Sem água pra a agricultura.

Mediante as previsões
O homem vive em pranto
No Nordeste em todo canto
Já são grandes as aflições
Neste pelejar das nações
Esperando água tão pura
Rezando e fazendo jura
Implorando uma invernada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura.

É um hospital sem paciente
É um peixe sem ter escama
É um ídolo sem ter fama
É uma arcada sem ter dente
É um rio sem ter corrente
É uma doença sem ter cura
É um sábio sem ter calçada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura.

É um campo sem ter trave
É uma igreja sem ter sino
É um ambulante sem destino
É uma floresta sem ter ave
É um cadeado sem ter chave
É uma compra sem fatura
É um preso sem ter soltura
É uma tarrafa toda rasgada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura.

É um casamento sem união
É uma cidade fora do mapa
É uma briga sem ter tapa
É uma padaria sem ter pão
É uma feira sem ter feijão
É u herói sem armadura
É um álbum sem ter figura
É uma arma descarregada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura.

No sertão pernambucano
Estão tomando sopa de palma
Os políticos pedindo calma
Nesse antigo falso plano
O povo entra pelo cano
E nesta guerra de perjúria
Se acaba na desventura
Como se perde uma boiada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

A Paraíba pede socorro
Diz: Aqui não é diferente
Falta chuva, falta semente
Com fome eu sei que morro
Antes o mundo percorro
Viver aqui é uma aventura
Como a seca sem estrutura
Nesta região tão castigada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura.

Com tanto poço perfurado
De grandiosa profundidade
Será no futuro de verdade
Um terrível campo minado
Entre cidade e serrado
Abalando toda estrutura
Além da perigosa fundura
Que fica na terra cavada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura.

Padecerá a humanidade
Segundo o Apocalipse
Vira temores, praga e eclipse
Guerra, fome e tempestade
Digo, leitores, com brevidade
Na condição de criatura
O começo dessa amargura
Já aparece bem retratada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura.

Chovendo sem preparação
O tempo fica desentendido
Até São José desprevenido
Sem resposta e sem devoção
Nos causando muita emoção
Lembrando a geração futura
Ter um santo de bravura
Com tanta promessa atrasada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

Ao Pedro dormiu demais
Vacilou e perdeu a chave
Agora só cai chuva suave
Matando lavoura e animais
Entre tantos outros mais
Vivendo a mesma loucura
Morte á fome se mistura
Nesta terra toda rachada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura.

É um tempo ruim e ardoso
Pra quem tira da terra sustento
Neste processo longo e lento
O homem fica sem repouso
Em busca do líquido precioso
Almejando nuvem escura
Para garantir nossa fartura
A chuva precisa ser pesada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

No sertão tendo inverno
O verde logo se infesta
E a terá promove a festa
Afirmando o poder eterno
Em forma de ato fraterno
Neste quadro coloca moldura
Na paisagem toda a verdura
Pra ocultar década passada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

O São Francisco é produto
Na indústria seca devorosa
Com a transposição demorosa
E todo o inverno oculto
Não haverá ramagem nem fruto
E nesta alta temperatura
Vê-se açude de boa espessura
Com pouca água acumulada
A natureza ta reprovada
Sem água par agricultura.

É uma quizila sem despacho
É um cabaré sem rapariga
É u ringue sem ter briga
É um governo sem ter macho
É uma região sem ter riacho
É uma tumba sem sepultura
É um rico sem cobertura
É uma promessa renegada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

É um cabra sem ser da peste
É uma porta sem ter trinco
É uma orelha sem ter brinco
É um cowboy sem faroeste
É um concurso sem ter teste
É uma pedra sem ser dura
É uma cratera sem largura
É uma terra abandonada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

É um diamante sem brilho
É um filme sem ter artista
É uma praia sem ter surfista
É um revolver sem gatilho
É um sabugo sem ter milho
É um almoço sem ter mistura
É uma prótese sem dentadura
É um conto sem ter fada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

O clima continua variável
Desafiando toda ciência
Que estuda do raio potência
E a falta de água potável
Nesse mundo tão deplorável
Celebrando total desventura
Nesta légua tirana escura
Inclusive com alma tombada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

O rio que corre na região
Nas bacias hidrográficas
Sem as forças hidráulicas
Com pouca água sem pressão
Dificulta toda irrigação
Porque o relevo tem altura
Com afluentes sem fundura
Fica a vegetação atrasada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

O Nordeste está perdido
Mesmo com tanta prece
A chuva não acontece
O inverno foi suspendido
Deixando o peito ferido
Que viu tanta nuvem escura
Arco-iris dando cobertura
Impedindo a água jorrada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

É um furacão sem ter vento
É um comício sem palanque
É uma guerra sem ter tanque
É uma música sem instrumento
É um parto sem sofrimento
É um prédio sem ter altura
É um segredo sem ter jura
É uma casa sem ter fachada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

É uma lagoa sem ter sapo
Pe uma sinuca sem tabela
É uma novena sem ter vela
É um camelô sem ter papo
É um tecido sem ter fiapo
É um curso sem formatura
É um professor sem leitura
É uma conta toda errada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura

É um inferno sem ter cão
É um pião sem ter ponteira
É um país sem ter bandeira
É um trem sem ter vagão
É um jogo sem ter confusão
É um livro sem ter brochura
É uma cova sem abertura
É uma bitola descontrolada
A natureza ta reprovada
Sem água para agricultura.

* Poeta paraibano. Publicou este cordel com o patrocínio da Prefeitura Municipal de Campina Grande e Fundação de cultura e esportes; quando da gestão do ex- Prefeito Cássio Cunha Lima e do diretor de cultura e esportes João Dantas/ 2001.





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