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Contos-->Uma manhã -- 06/10/2000 - 00:45 (Ramon Arruda) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A mãe empurrava o quadril, para frente, com o braço flexionado, defronte ao forno rudimentar. Desde que acordara, o menino a perturbava com aquele pedido insistente. Ela tinha o dinheiro, mas queria guardá-lo, para uma situação pior que a que enfrentavam, não podiam se dar o luxo de certos caprichos.
Ele estava com cinco anos mais ou menos, era obviamente magro, os braços, estreitos, e as canelas, muito afiladas. Quando ela comia galinha e quebrava, com facilidade, os ossos miúdos, para aproveitar bem o momento, lembrava-se do filho desesperada, pois acreditava que o menino se desmancharia, caso submetessem seus frágeis ossos a um esforço maior.
Apiedada e disposta a se sacrificar mais, a fim de que a infelicidade que ele enfrentaria, seguramente, na vida, fosse amenizada, deu-lhe os trocados para seu sonho infantil momentâneo. Ele mostrou os dentes, abraçou-lhe as pernas, por cima do vestido fino e saiu ligeiro pela porta. Mexendo o almoço, a mulher não pensou mais no dinheiro nem em como o recuperaria.
Ao se expor, na rua, e encontrar os outros meninos, ele disfarçou sua alegria e dispensou os convites a brincadeiras. Apesar de muito novo, já sabia que havia gente ruim, no mundo, que tomava dinheiro e comida dos pequenos. Habilmente, driblou os camaradas de traquinagem e seguiu aliviado, por não ser obrigado a dividir seu tesouro com todos.
Antes de entrar no estabelecimento, olhou os cantos da rua, não viu ninguém, nem o avistaram, o que autorizou suas pernas a levarem-no ao balcão verde escuro e pedir, não sem autoridade, o produto para o qual tinha dinheiro. Ante a hesitação de seu interlocutor, ele espalhou as moedas no verde desbotado e repetiu o pedido.
Seus olhos se arregalaram, diante de sua conquista. Neste momento, não tinha mais, em mente, os difíceis apelos à mãe, as horas em que quis desistir, a apoquentação dos amigos, o medo de ser visto, enfim, toda sua luta matinal. Segurou o objeto, não se preocupou com troco, que, apesar de ser minguado, era importante para sua casa, e saiu freneticamente.
Andava atento, com a mão meio de lado, para camuflar o que levava. Estava ébrio de felicidade, suas pernas tinham um vigor anormal, seu peito sorria com todos os dentes: estava completo. No meio da rua, o carro o levantou do solo, não sem buzinar e frear, quando já era tarde. Os transeuntes circundaram o pequeno e viram um sorriso, no rosto, e um pão-doce, na mão acanhada, com algumas mordidelas cuidadosas.
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