"Caminheiro que passas pela estrada, / Seguindo pelo rumo do sertão" (Castro Alves, Poesias Escolhidas, p. 347).
Sinistra era a noite escura e ventosa,
a resvalar na janela a ventania
sussurrando baixinho lamentosa,
murmúrios piedosos de agonia
atira-se porta adentro um olor
de formato esbelto ondeante
impregna afável ao redor
com caminhar sutil, flutuante
a chuva castigou forte as paredes
o faiscar dos raios riscaram a noite
ribombaram trovões ruindo aquarelas
volto-me no repente, deparo num açoite
com seu olhar em brasa me oprimindo o peito
e um frígido súbito a apalpar-me à espinha.;
abatido no silêncio me amparo
ela sinuosa para mim caminha
mais um passo e o enrosco foi latente
fugiu-me a razão, principiei a valsar
açoitei no pó a mascara e os monstros da mente
e voltei a sorrir,
a cantar,
a viver sem parar
porém um lampejo fez estremunhar
o pérfido regozijo
a ledice esvaiu-se em longo prantear
e aquela que ara a primeira das nove musas
agora me sorri com olhos gelados,
arrogantes, obscuros.; a megera medusa!
tropeço na escada
três tombos
três berros!
acordo esfalfado
assim foi-se embora a desafortunada noite
de pé, espanto o pó dos molambos num acoite,
dou adeus à tapera.; o sol já vem vindo
retomo a caminhada, montado no trotar de uma esperança,
com uma tristeza imunda me aporrinhando com pensamentos...
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