Cenas em cena
Sobre a cômoda o porta-retrato,
o batom, o perfume, as pérolas...
Se sol, escancara as janelas
para que as sombras apreçam.
Se chuva, fecha a fina cortina;
Na luz dos meus olhos, porta-retrato,
batom e perfume perderão o relevo,
menos as pérolas.
Estas brilham sempre no olhar de uma mulher.
À luz das velas, porcelanas, pratas e cristais
na transparência das águas dançam.
No rubor do vinho, o meu calor, o teu calor,
o nosso amor.
Se sol, por favor, a valsinha do Chico;
quero a languidez daquela poesia.
Se chuva, canta você;
na densidade da tua voz tudo o mais perderá o sentido
menos o rubor. O desejo de um homem sempre cora
as faces de uma mulher.
Entremeados de rendas os brancos lençóis
As almofadas e os travesseiros.
Se sol, afasta as cortinas, quero a réstia de luz
sobre nossos corpos.
Se chuva, não fala, quero as gotas no telhado.
No aconchego dos teus braços, almofadas
e travesseiros perderão o sentido, menos os lençóis.
Vestida de brancas rendas, uma mulher sempre brilha
no olhar de um homem.
Cubro-me de pérolas e rendas,
de calor, de rubor e de amor
sob sol ou chuva,
para assim, enfim...
Se sol, nos meus olhos, você encontrar o teu retrato.
Se chuva, no meu corpo, a sombra do teu corpo.
Mas ainda, se preferir, visto-me de nada
e sob sol ou chuva para você danço.
Por meu desejo só querer o seu desejo,
a mim,
sem trégua ou dúvida
dita sempre, o próximo passo.
|
