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Cordel-->Canto dos Cristos da Terra ...paulo nunes batista -- 28/04/2006 - 14:41 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Canto dos Cristos da Terra ou como nasce um cangaceiro
Autor: Paulo Nunes Batista*

Cristos da terra, nascidos
Na Manjedoura do NÃO:
Não têm terra nem saúde,
Justiça nem instrução.
Só conhecem 3 reis magos
-que sempre lhes causam estragos-:
Polícia, Imposto e Patrão.

São filhos de Zé Ninguém
E de Maria Qualquer...
Naturais de algum “Belém”
Que não se sabe onde é
E onde, entre espinhos e grotas,
“o Judas perdeu as botas”
jogando mais Lúcifer...

Frutos do chão duro e seco
Como um rio que já foi...
Vidas de pedras agudas...
Terras de “Deus me perdoe”!...
Essa terra, aquela vida
Têm a tristeza doída
De uma caveira de boi...

Irriga as maçãs do rosto
Com o chuvisco da Esperança:
Luta e sofre! Sofre e espera
Na Fome que a dor amansa...
Num prato – pesa a Pobreza;
No outro – o peso é da Tristeza
Que sua vida balança...

Pega um fiapo de Sonho
E tece a própria mortalha.
Toca o carro...mas, encalha
Nas Pedras da Solidão...
Seu canto traz a Amargura
Dos lamentos de um Aboio...
Da cicatriz de um arroio
Na Face da Sequidão!

Planta um Pé de Sacrifício
-nasce uma Flor de Saúva!
Estende a Mão para a Chuva
-e alcança o Olho do Sol...
Só lhe dão, como presente:
Pobreza...falta de escola...
Leva mais chute que bola
Em campo de futebol...

Mora num rancho de palha,
Dorme num jirau de vara.
E – em cima de um pau-de-arara,
Deixa, um dia, o “seu” Sertão...
Seu, uma vírgula, que, dele,
Não possui nem mesmo os Braços
Que são, apenas, pedaços
Das posses de algum Patrão...

O Patrão manda no velho,
Manda na velha, na filha.
E na quadra. E na quadrilha...
Na quadrinha...no quadrão...
Entorce, o Cristo da Enxada,
Cansado do mandonismo,
Muda o nome de batismo
Pra Silvino ou Lampião...

Cristo da terra, pregado
Na cruz de um cabo de Enxada,
Sua alma está calejada
Pelos séculos de Dor...
Traz dois olhos bem abertos
-mas anda cego de tudo:
cego, cabisbaixo e mudo
pelas terras do Senhor!

Belo dia, um desses cristos
Humilhados, oprimidos,
Forma no rol dos Bandidos
Contra a Opressão Social...
E – é Jesuíno Brilhante,
Corisco, Antônio Silvino
Ou o “Capitão Virgulino”
-“justiça” escrita a Punhal!

É – Liberato, Jurema,
Moita Braba, Pitombeira,
Zé Sereno, Mão Foveira
Ou “Quelé do Pajeú”...
É – Labareda – vingando
A honra da irmã sertaneja
Que ficou nos “Ora, veja”
De um “cabo” de instinto cru...

Vai acender as fogueiras
Da rebeldia matuta
-contra a força absoluta
dos senhores “Coronéis”.
É- mais um, que troca a Enxada
Pela “lei” de um pau-de-fogo,
Onde a Morte ganha o jogo
Cheio de lances cruéis!

Seu “coroné” manda-chuva
Manda na vida e na morte,
No Sul, no Centro, no Norte,
No litoral, no Sertão...
Manda- porque tem dinheiro,
Tem nome, poder e terra:
Promove a Injustiça e a Guerra
E até “Deus” lhe dá razão!...

Almas de lama e de aço
Vivem no chão Nordestino
Tentando o nó do destino
De algum modo desatar...
Muitos escravos da gleba,
Tinham dois rumos, somente:
Um – morrer... o outro-matar...

Com Corisco terminou
O tempo dos cangaceiros.
Mas agora os pistoleiros
Fazem o que manda o patrão.
Quantas vidas são ceifadas
Na base da morte paga
Motivando a dura saga
Do sangue ensopando o chão.

Acabou-se Lampião –
Entrou em campo outro time:
O Sindicato do Crime
Tomou conta do País.
No Nordeste, Norte ou Centro
Cangaceiro de gravata
Pra ganhar dinheiro – mata,
No seu ofício infeliz.

Quando a JUSTIÇA mandar
No Seu Coroné Mandão
-nesse dia há de acabar
a Desgraça do Sertão:
nunca mais o brasileiro
terá outro Cangaceiro
Virgulino Lampião!

Na Injustiça Social
Repousa a causa do mal.
(*)Paulo Nunes Batista (João Pessoa-PB, 02/08/1924), poeta e escritor paraibano radicado em Anápolis-GO, é autor, entre outros, dos livros: Canto Presente (1969), Cantigas da Paz (1971), A Caminho do Azul (1979), De Mãos Acesas (1981), ABC de Carlos Drumond de Andrade e Outros Abecês (1986), O Sal do Tempo (1996), O Vôo Inverso (2001) e Alguns Poemas (2003) – poesia-; Anápolis em Tempo de Música (parceria com Jarbas de Oliveira, 1993) – ensaio; e Chamego, o urubu (1997) – contos.
Bacharel em Direito, repentista, cronista e jornalista, escreve na imprensa do Brasil e Portugal desde 1940. Em 1944 representou o Brasil nos Encontros de Improviso em Lisboa. Membro da Academia Goiana de Letras (Cadeira no. 8), Membro-Correspondente da Academia Paraibana de Letras, Sócio-Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) e de outras entidades culturais. Consta de antologias e é citado por diversos autores.






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