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Cronicas-->Laranjas, caçulinhas em velhas tardes de domingo -- 06/08/2000 - 21:58 (Mastrô Figueyra de Athayde) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Laranjas, caçulinhas em velhas tardes de domingo

Uma das recordações mais vívidas de minha infància está ligada, como tantas outras, ao amor que sempre tive pelo futebol. Ir ver os jogos do Guarani no Brinco de Ouro da Princesa era para mim e para outros garotos da Aparecidinha, uma aventura deliciosa e emocionante. Tomávamos um ónibus na Rua Baptista Raffi, descíamos na Avenida Andrade Neves e caminhávamos pelas avenidas Campos Salles e Francisco Glicério até o estádio, aonde chegávamos com o coração indócil como um cavalo novo.
O primeiro sinal de que estávamos perto do estádio era dado pelas carrocinhas cheias de laranjas, que impregnavam o ar daquele cheiro inconfundível e tentador.
Apesar da nossa pressa, sempre dávamos uma parada diante de uma das carrocinhas, mesmo que não tivéssemos nem dinheiro nem intenção de comprar nada ali. Eram dois minutos admirando a rapidez e a perfeição com que as laranjas eram descascadas por um aparelho acionado por uma pequena manivela.
Hoje, as pessoas podem até estranhar, mas para o menino que eu era, aquilo representava o máximo em engenho e arte, numa época em que a tecnologia estava em fase de testes e criações.
Até hoje, quando vejo uma laranja ou rememoro as cenas do meu passado, se apossam de mim o espanto e a reverência que sentia ao ver a maquininha trabalhando para perfumar aquelas tardes luminosas com aquele aroma inesquecível.
Neste saudosismo pleno de minha infància, relembro as inúmeras tardes de domingo que passei na casa de minha tia, no Parque Industrial. Vários garotos da minha idade se vestiam de verde e branco e outros de preto e branco, sendo empurrados pelos seus pais, tios e avós. Mesmo criança, a velha rivalidade entre Guarani e Ponte Preta pairava no ar. Mesmo que um clube não jogasse no mesmo fim de semana, a derrota de um era a alegria do outro. O simples desprazer de uma torcida era motivo de festas e gozações. Quantas vezes não tive de correr de pontepretanos, devido às minhas gozações e quantas vezes não era eu quem partia para cima, a fim de dar umas porradas naqueles "macacos", cujo estádio foi construído em um barranco.
O mais interessante nesta história é que ao mesmo tempo o amor que tinhamos pelos clubes dividia as amizades; por outro lado, no resto da semana estávamos sempre juntos, seja brincando de bolinha de gude ou pião, a galera sempre se reunia no bar do Simão, um corintiano doente, que em dia de jogo conseguia ser o inimigo de todo o bairro. Em nosso bairro a maior tradição não era torcer pelo bugre ou para a macaca. Era torcer por outro clube que não fosse de Campinas. Como ia dizendo, a galera se reunia no bar do Simão e tomava diversas caçulinhas, terminando com um imenso arroto sonoro, que chegava a estremecer as bases do bar.
O tempo passou e o amor pelo meu clube continua, mas os torcedores de hoje são bem diferentes e partem sem motivo para a agressão. Ai que saudades das laranjas, das caçulinhas, das velhas tardes de domingo...

Mastró Figueira de Athayde é cronista e agente secreto da Interpol
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