Era no interior do Brasil. Uma cidadezinha bem pacata. A farmácia funcionava numa casa de dois andares. Em baixo, o comércio. Em cima, a casa do dono da farmácia. Chovia muito. Fazia frio. E já passava de onze da noite. Quando o farmacêutico escuta as batidas na porta da farmácia. Ele pergunta a mulher: Quem será uma hora dessa? Deve ser alguém precisando de algum remédio, está passando mal, sei lá. E o farmacêutico: pois ele vai se virar noutro lugar. Está muito frio. Não vou descer lá em baixo só por causa disso. Além do mais, você sabe que abrir as portas dá o maior trabalho. E a mulher, refletindo: mas meu bem, e se for caso de emergência? Alguém passando mal ou a esposa para ter filhos, com dores? E o farmacêutico. Não, não adianta, não vou descer. E a mulher insistiu: é melhor você atender, pois a pessoa continua batendo nas portas. Isto é sinal de que precisa mesmo. E o marido muito brabo, por fim, resolveu, p. da vida. Descer. Jogou as cobertas quentinhas para o lado, desceu às escadas e procurou o molhe de chaves e, depois de muito esforço, conseguiu abrir a porta da farmácia. Deu de cara com um senhor. Mal vestido. E perguntou, impaciente: o que é que você quer esta hora das noite? E o bêbado, apoiado na porta da farmácia: não quero nada de mais. Vim aqui apenas pra me pesar. |