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Poesias-->Reflexos e Labirintos - Um poema de Giusto Io -- 15/05/2004 - 23:06 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




REFLEXOS E LABIRINTOS

Giusto Io





Querida



Foi interessante nosso encontro

Quando olhei, já sumias na distância indefinida Ainda te vi contornando o balão dentro do carro preto que virou sombra

Ficou-me a fulguração de teu vulto filtrado pelo fosco vidro

que distorce a geometria dos rostos ausentes

Quis reproduzir em mim imagens tuas mas fracassei pelo sombrio vulto dos fortes mognos verdes que se sobrepunham à pista

Logo-logo uma franzina e anônima pastora arrastou sua figura pela mesma estrada onde havias deixado as últimas cores de teu rosto no ponto em que fiquei

A imagem da pastora atravessou a tua

De olhos postos no movimento me impressionava o compassado e jovem ritmo dos passos da figurinha que parecia uma encarnação cabocla

das margens do Tocantins - o grande rio de praias esplêndidas

onde as tartarugas desovam em clandestinidade lunar

sob os olhares policiais de emissários da tribo tartarugal

Prestei toda a atenção ao desenho ondulado das curvas da pastorinha

e observei que eram mais perfeitas do que as da estrada

Fui tomado de imediato pelos efeitos de uma sensação-percepção-visão-intersecção de imagens como se estivesse caindo em mim

a chuva oblíqua do telhado da casa

de Fernando Pessoa

Ainda sob os efeitos da sombra dos mognos devo dizer-te que já não há carros na pista que deixaste

Mas persiste em grande estilo e é muito difícil de apagar a imagem da pastorinha que retenho no mastro da emoção

Teu narizinho ainda tem alguma vida na realidade de meu sonho mas só me apareces solitária e sempre sentada em teu carro preto

No meu album há algum fôlego mas todo ele encrustado no vidro fosco carro preto

Perturba-me a teoria do instante defendida por André Gide

e sinto dificuldades inesperadas em distinguir imagem de imagem

nas minhas janelas oculares que filmam o rosto do mundo

Talvez pela dificuldade real de conciliar a imagem da pastorinha

com a tua imagem

nas mesmas paredes vivas da recordação

Os tratados de doutrina existentes em minha estante

tentam explicar muitas coisas

mas a interpretação não coincide com as realidades

que encontrei hoje na pista por onde passou teu carro preto

e na pós-pista percorrida por meus olhos

Uma pluralidade de vias e de emoções me assombra

Nota que são comuns as imagens sobrepostas

tanto aqui quanto na China, no Tibet ou no Tocantins

Para mim, isso é um incrível ponto de partida para se debaterem os fundamentos

da teoria da emoção

Para terminar meu relato, queria ainda dizer-te que na pista das sombras de mogno,

um bando alegre de dançarinas do teatro Amazônia deixou novas imagens para serem recolhidas

por meus olhos e minha emoção

Imagens que tive de processar juntamente com as outras no laboratório da alma

Imagina agora quantas figuras e imagens estão pecorrendo a pista desde que partiste

São rostos, sorrisos, maquiagens, cabelos, passos, cores,

roupas, movimentos, flashs

No ar soam o eco dos passos, comuns ou dançarinos,

os passos alegres, atléticos e desafiadores

Já pensaste na dinâmica do que te estou narrando?Trata-se de uma riqueza de fulminantes imagens que brotam magicamente da alegria jovem da poesia

que as pessoas emprestam ao ato de viver

Imagina se cabe agora alguém se preocupar com uma teoria poética de rigor

O que é teoria poética senão a sobreposição de imagens que te estou narrando?

Eu prefiro dizer que meus olhos se regozijam

com a aparição deste jardim de almas jovens

onde há rosas de todo o tipo

cujo perfume me estonteia

Enquanto arrumo minhas impressões múltiplas, pelas escadas do prédio onde moro,

a minha vizinha desce atabalhoada com um cachorrinho poodle

preso pela corda

Olhando a moça, meus neurônios tumultuados pensaram não sei a troco de quê

que sua calcinha deve ser de cor bem diferente da calça laranja que veste agora

Eu sei que amanhã na hora do Cooper

subindo as encostas que definem a linha do horizonte

vou ponderar todas estas sensações e planos

que deixarei para se arrumarem sozinhos

no meu platô cerebral e sensitivo

Tenho algum receio de que me digas que passei a tarde sem te telefonar

e que que ao me despedir

queiras gravar o meu ciao bem altinho

Puxa!

Como exageramos nas relações e nas exigências, Princesa

E se a pastorinha exigir de mim que a cumprimente também?

E se as dançarinas abrirem o sorriso para minha emoção

e cada uma delas quiser pegar a minha mão para me arrastar

até à nascente do parque selvagem?

Está pintando por aí uma dinâmica de discurso para equilibrar os relacionamentos

na caminhada que eles percorrem entre beijos, carícias, distâncias, sombras,

ciúmes, zelâncias e neuroses, notaste?

Parece que desta vez tenho pela frente

um processamento difícil de imagens e sensações Peço-te que me dispenses agora

um nadinha de tempo... Depois

não me esquecerei de te fazer chegar aos lábios um pouquinho do coktail

que preparei nesta tarde, ok?

Os céus ficarão mais carregados com estes minutos de espera, eu sei.

Mas é hora de eu e meus leitores desocultarmos alguns segredos de vida

Vale a pena esperar

Isto é para não ficarmos malucos...

No momento

quero ficar sozinho

para curtir o que tenho cá dentro no coração

Para arrumar tantas imagens emoções e sensações Para outra vez

deixa teu carro preto correr sozinho na estrada, e tenta fazer tua corrida s

em ficar na linha dos vidros foscos

Ok, queridinha?



Giusto Io

11 de janeiro de 2002



























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