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Artigos-->AGROTÓXICOS NOS ALIMENTOS -- 16/11/2000 - 16:22 (Paccelli José Maracci Zahler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AGROTÓXICOS NOS ALIMENTOS



Paccelli M. Zahler



No Distrito Federal, assim como em outras regiões do país, não é raro travar contato com produtores rurais, particularmente de hortifrutigranjeiros, e deles ouvir comentários a respeito de suas hortas: a familiar, que serve para o consumo próprio, e a comercial, cujos produtos se destinam à comercialização nas feiras ou nas centrais de abastecimento.

A diferença entre as duas é que na primeira não é aplicado “veneno”, ao passo que na segunda, as pulverizações são semanais e, em alguns casos, os prazos de carência – período entre a última aplicação e a colheita – não são respeitados.

Esta atitude foi justificada certa vez por um produtor do Rio de Janeiro da seguinte maneira: “Se a gente respeitar todos os prazos e carências, se arrisca a perder a produção. Tem mesmo é que pulverizar o veneno, nem que seja para colher depois”.

O uso intensivo de agrotóxicos pode ajudar a não perder a produção nas hortas comerciais, mas tem contribuído muito para a intoxicação e inclusive morte dos agricultores.

Segundo dados da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Paraná, até 1981, foi constatada uma média anual de 50 mortes de trabalhadores rurais por intoxicação por agrotóxicos; em 1985, foram verificados 12 casos de aborto entre 20 mulheres que haviam trabalhado em lavouras de fumo, numa região próxima a Curitiba; e ocorreram vários casos de nascimento de bebês sem cérebro (anencefalia) em Uruguaiana, Rio Grande do Sul. Além disso, o ambiente entra em desequilíbrio e a lavoura nunca é mais a mesma, pois a cada safra são necessárias dosagens cada vez maiores para controlar as pragas.

De acordo com a FAO/ONU, tem havido um aumento crescente do número de insetos resistentes aos agrotóxicos, passando de 7 espécies resistentes em 1938 para 432 espécies de insetos resistentes em 1980, o que tem contribuído para um aumento cada vez maior do número de aplicações por safra.

A venda de produtos químicos de largo espectro sem a exigência do Receituário Agronômico, a falta de orientação dos agricultores para o uso racional dos mesmos e a não observância dos prazos de carência tem trazido para as mesas das cidades resíduos tóxicos bem acima do limite máximo de tolerância estabelecido pela FAO e pela OMS, através da Comissão do “Codex Alimentarius”.

Em 1984, o Instituto de Tecnologia de Alimentos-ITAL constatou que 41% de 1.176 amostras de produtos alimentícios (como óleos vegetais, salsichas, lingüiças e manteiga) coletadas em Campinas, São Paulo, apresentavam-se contaminadas por resíduos tóxicos.

Análises feitas pelo Instituto Adolfo Lutz em 17 amostras de quatro marcas de leite comercializadas em São Paulo, revelaram a presença de BHC (1,2,3,4,5,6 hexaclorociclohexano), em uma concentração de 0,03 ppm (partes por milhão), quando a tolerância máxima permitida pelo “Codex Alimentarius” era da ordem de 0,004 ppm, ou seja, sete vezes menos.

Resíduos de BHC e DDT (dicloro-difenil-tricloroetano) também foram encontrados no leite materno. Tais produtos, apesar de terem a sua utilização proibida na agricultura (pertencem ao grupo dos organoclorados), são ainda empregados em campanhas de saúde pública para o controle de vetores de doenças como mosquitos e barbeiros.

Os resíduos de agrotóxicos não têm trazido prejuízos somente à saúde de aplicadores e consumidores, contudo, têm se estendido também à economia do país.

Há cerca de 5 anos, os Estados Unidos suspenderam a importação de melões e mamões brasileiros devido à presença de resíduos de EDB (dibrometo de etileno) utilizado até então para a desinfestação dos frutos, pois a Agência de Proteção ao Meio Ambiente daquele país verificou que este produto é cancerígeno, mutagênico e teratogênico.

A ingestão diária de alimentos contaminados por agrotóxicos pode provocar distúrbios neurológicos, esterilidade, problemas de má formação de feto (por exemplo, anencefalia e aborto), alterações nas células do fígado (detectadas sob microscópio eletrônico), perda de memória e retardo aos estímulos ambientais. Esta foi a conclusão de um estudo realizado pelo Dr. João Palermo Neto, da Universidade de São Paulo, apresentado em palestra na 41a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em julho este ano, em Fortaleza, Ceará.

Logicamente, tais alterações no comportamento irão afetar o rendimento do trabalho porque as pessoas apresentarão com freqüência dores de cabeça e indisposição.

O pesquisador acertadamente propôs que sejam revistos os níveis de tolerância de resíduos dos princípios ativos presentes nos alimentos, que podem ser “teoricamente” ingeridos diariamente pelas pessoas sem prejuízos para a saúde, hoje, completamente desatualizados; e que sejam destinados recursos para o reaparelhamento dos laboratórios já existentes, assim como para a criação de novos laboratórios de análises de resíduos tóxicos em alimentos no país, e desta maneira tornar possível um maior controle de qualidade dos produtos agrícolas.

Porém, enquanto os recursos não chegam, é necessário que o produtor se preocupe em utilizar racionalmente os produtos químicos na lavoura, já que estes são apenas um instrumento auxiliar no combate às pragas e doenças e que, quando utilizados em conjunto com outros instrumentos (como variedades resistentes, métodos culturais, inimigos naturais) irão ajudar no aumento da produção.

Para que sejam utilizados, é necessário que a praga ou a doença se encontre em um nível de infestação capaz de causar prejuízos econômicos à produção. Neste caso, a assessoria de um engenheiro agrônomo é indispensável para a avaliação da real necessidade de aplicação do produto químico, na dosagem e na freqüência adequadas, respeitando-se os prazos de carência.

Esse profissional, através do Receituário Agronômico, irá indicar, dentre os produtos disponíveis no mercado, o menos tóxico, de modo a evitar ao máximo que permaneçam resíduos nos alimentos em níveis prejudiciais à saúde do consumidor.



(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília nº 92, de 11/10/89, p.6)

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