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Poesias-->O SEIO ESQUERDO -- 13/05/2004 - 18:35 (Lílian Maial) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O SEIO ESQUERDO

Lílian Maial







Aconteceu.

Ninguém espera

E, na primavera,

Foi-se o seio esquerdo.



Foi-se o toque,

Ficou a sensação fantasma

Foi-se o alimento,

Ficou o vazio no peito.



Como ser mulher, sem o seio esquerdo?

Como ser mãe, sem a mama esquerda?

Como ser profissional, sem o outro par?

Como se olhar no espelho, nua?



O seio direito, encabulado,

Só e pendurado,

Emoldurando o luto

Do parceiro canhoto.



Está faltando o outro.

São dois,

Originalmente dois.

Há que ser dois.



Nunca mais seus dedos

Apertando a carne macia e rosada

Nunca mais sua boca

A brincar de trincar e arrepiar

Nunca mais a dança sensual

Dos pares no banho

E entre lençõis de cetim.



Há um imenso vazio

Bem maior que a mama

Que atinge camadas profundas

Da própria natureza fêmea.



Há a ausência constante

Lembrada todo o tempo

Pelo traço da cicatriz

Dessa ferida que não fecha.



Há a dor, os ductos, os lutos

Mágoa infiltrante, ingrata, infeliz

Dias vividos sem perceber

E para quê viver?



Olhos que nunca repararam

Agora recusam-se a olhar

Não tem remédio

Não tem escolha



Tem alopécia, náusea e dor

Tem quimioterapia

Tem agonia

Solidão de espinho e flor



Tão falso o enchimento

Disfarça a roupa

Como peruca da alma

Que dribla olhares piedosos

De mulher barbada de circo

Que extirpa seus próprios caroços.



Os dias arrastados, as horas contadas

Quando volta ao normal?

Quando se acorda do pesadelo?

Ou tentar esquecê-lo...



É tão desigual, tão caolha

Fica sem sentido, tão velha

Um robusto, imponente, desejável

Outro, um traço doente, indelével, lamentável.



Luta diária e desanimada

Para sobreviver – corpo sem jeito

Mulher sem peito, que cala o grito

Tempo finito, seio bonito

Que se foi.





*************



Do livro: "Enfim, renasci!"

Ed Impetus - 2000
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