HÁ VIDA DEPOIS DA MORTE?
(AOS HOMENS DE BOA VONTADE)
Quando o corpo perde a força,
A vista toda escurece,
O cérebro não funciona,
O coração desaquece
E os sentidos todos somem...
A vida desaparece!
E depois, o que acontece?
Pergunta Guaíra Flor 1
Em uma bela reportagem
Que O Norte publicou,
Estudando o insondável
Do corpo que se finou.
A repórter pesquisou
Em religiões e seitas,
O que vem depois da morte,
Depois que o corpo se deita
E abandona o mundo físico;
Se a morte é coisa aceita.
Não tem resposta perfeita,
Com tantas explicações...
De cristãos, de islamitas,
De outras religiões -
Do Judaísmo, Budismo...
São díspares opiniões.
Todas elas têm senões,
Todas têm uma resposta.
A que você escolheu
Por certo é a que mais gosta.
Cada um defende a sua,
Como num jogo de aposta.
A vida é uma proposta,
Na esfera fisiológica.
Milhões de espermatozóides,
Em uma corrida ilógica,
Disputam a fecundação
De um só vida ontológica.
Seria resposta lógica
Dizer que é a lei do mais forte,
Do mais ágil, ou mais veloz,
Ou do que só tem mais sorte:
Aquele dentre os demais
Que se achava mais ao norte.
Para os outros é a morte,
Sem ter nova chance igual,
Pois com a fecundação
Fecha o ciclo menstrual;
Os outros espermatozóides
Logo chegam a um final.
É o início natural
De qualquer dos seres vivos.
Começa com uma disputa,
Só vencem os mais ativos,
Segue-se a fase terrena –
Viver com outros motivos.
Eu me quedo pensativo,
Como a repórter, Guaíra 1,
Se há uma terceira fase,
Ou se é tudo mentira;
Se todos têm vida eterna,
Ou se um só a sorte tira.
Uns prometem vira-vira,
Que o humilde vai pro céu
E o soberbo pro inferno.
Um outro chama infiel
A quem não tem mesma crença –
O que dirá do incréu...
Como o povo de Israel,
Que descende de Abraão,
A bíblia diz ser o mesmo
Que depois se fez cristão,
Se vemos que é o Judaísmo
A sua religião.
Como crer no Alcorão,
E não crer no Evangelho,
Se o relato de um
É do outro quase espelho;
Se o primeiro é bem mais novo
E o segundo é bem mais velho?
Não devo meter bedelho
Na crença de cada um,
Uns dizem que há muitos deuses
E outros que apenas um.
Há ainda os agnósticos,
Que não crêem em nenhum.
Há uma coisa em comum
Na mente de todo homem.
Não é unir as nações,
Nem matar do mundo a fome.
Mas saber se há uma alma,
Depois que a matéria some
A eternidade tem nome
Mas nem todos têm razão
Para uns, harém de virgens;
Pra outros, ressurreição;
Outros retomam um corpo
Pela reencarnação.
Se é vária a opinião,
A verdade então qual é?
Defender qualquer corrente
Não julgo questão de fé...
Terá razão Jesus Cristo,
Ou Kardeck, ou Maomé?
Aprendi com a Santa Sé
Que a ressurreição existe,
Mas passei a duvidar
E minha dúvida persiste,
Até que melhor resposta
A minha mente conquiste.
A dúvida me deixa triste
E aos que têm fé invejo.
Aguardo ainda que a vida
Me ofereça algum lampejo
Dessa fé que muitos têm;
Neles alegria vejo.
A eternidade, eu almejo
E sigo os ensinamentos
Do Evangelho e profetas -
Novo e antigo testamentos;
Defendo o amor a todos,
Sempre, em cada momento.
Carrego bons pensamentos -
Isso aprendi com meus pais.
Até preguei o Evangelho,
Nos meus tempos de rapaz,
Sempre ensinando a bondade,
Mas nunca encontrei a paz.
O que o homem hoje faz
Chega às raias do cinismo;
Mil pastores, mil igrejas,
De um mesmo Cristianismo...
E sempre encontram infelizes
Para lançar num abismo.
Aprendi no catecismo
E em muitas outras leituras,
Que Deus criou mundo e homem
E amou tais criaturas
E deu-nos a liberdade
De nossas vidas futuras.
Que quem tem idéias puras
E ama seu semelhante
Terá grande galardão
Entre os mais será gigante.
Essas promessas a Igreja
Reitera a cada instante.
Que a bela palavra eu cante
E que espalhe bom exemplo.
Este, mais que a palavra
Que é pregada no templo,
Produzirá seguidores
Do Evangelho que contemplo.
Tenho seguido o exemplo
De meu pai, João Tavares,
Que sempre foi pregador
Da palavra, aos seus pares,
Aonde quer que ele fosse,
Não importavam os lugares.
Só que eu freqüento bares,
E ele não freqüentava.
Busco viver com decência
Seguindo o que ele falava,
Embora tenha meu vício,
Que mi’a sepultura cava.
A nossa mente é escrava
Do que nos foi ensinado.
Se nos tempos da infância
Somos nu’a crença educados,
É bem difícil descrer,
Mesmo depois de formados.
Talvez me tenham enganado,
Me passando o que aprenderam...
Nisso tudo não há culpa,
Me ensinaram o que creram.
Cada um dá o que tem;
Muito mais meus pais me deram.
“Os que não viram e creram -
Disse Jesus a Tomé 2 –
São uns bem-aventurados!”
Nisso reside a fé.
É não duvidar dos dogmas
Legados da Santa Sé.
O profeta Maomé
Cativou meio bilhão 3
De seguidores ferrenhos,
Pra sua religião.
Alá é a divindade,
O seu livro o Alcorão.
O salat é a oração
Obrigatória no Islam,
Cinco vezes cada dia,
Começando de manhã.
O zalat é o seu dízimo
Todo ano um ramadã.
O árabe de mente sã,
Que acredita no Profeta,
Faz as orações diárias
E cuida que em linha reta
Esteja voltado a Meca,
Onde esteja no planeta.
Reza tal qual o asceta,
Que escolheu um mosteiro
Para viver sem família,
Só orando o tempo inteiro
E fazendo sacrifícios,
Sem pensar nunca em dinheiro
Mas quem será o primeiro?
“-É o que serve! “ 4 –diz Jesus
E ajunta: “-Quem me segue
Há de tomar sua cruz!” 5
Pois é uma porta estreita
Que à eternidade conduz.
Não são os olhos azuis
Que em Jesus Cristo se bota,
Que nos incitam a segui-lo,
Feito mulher quando vota.
Mas sim, as palavras sábias
Com que aos fariseus derrota.
A Bíblia nos dá a rota
Do ensinamento cristão.
Dentre todas as atuais,
É essa a religião
Mais universal de todas
E a de maior dimensão.
Existe mais de um bilhão
De cristãos em todo o mundo.
Embora não tenham eles
Um fanatismo profundo,
Tanto que Jeovah Mendes 6
Os chama crentes-Raimundo.
E descendo mais a fundo
Nessa nossa preleção,
Que se HÁ VIDA APÓS A MORTE
Tem por interrogação,
Digo que o Catolicismo
Nos prega a ressurreição.
Mateus, Marcos, Lucas, João
São os quatro evangelistas -
Sobre Jesus escreveram,
Mesmo sem ser jornalistas,
Cada um apresentando-o
Sob seu ponto de vista.
O hinduismo registra 7
A origem na escuridão
A qual, ao ser dissipada,
Deu início à criação
De todos os seres vivos,
Dando-se a encarnação.
E essa religião
Ultrapassa os 3000 anos,
Crê em milhares de deuses,
Sendo Brama o soberano,
E os seus sacerdotes vedas
Dominam entre os humanos.
Considera ser profano
Maltratar os animais;
Prega a reencarnação
De todos os seres mortais;
Compõem seus seguidores
Quatro castas sociais.
Nas nações orientais
É onde impera o Budismo 8.
Não prega a eternidade,
Nem adotou um batismo;
Buscar a bondade e a paz
É seu simples catecismo.
Defende o ateísmo
E tem origem indiana.
E por via de oito trilhas
Qualquer da espécie humana
Pode chegar ao seu clímax,
denominado Nirvana.
Hamayana e Rinayana
São duas grandes escolas;
Da religião budista
As duas principais molas,
Que dos desejos humanos
Quebram grilhões e argolas.
Para o mal que nos assola:
Crer, ou não, na Eternidade
São essas as principais crenças
De toda a humanidade.
Cada uma tem seu culto,
Sua fé, sua verdade.
O homem tem liberdade,
Sua consciência o rege;
Já não há inquisição,
Para taxá-lo de herege,
E a nossa Carta Magna
A livre crença protege.
* * * * *
Jesus, Maomé, Kardeck, Buda,
O profeta é somente um enviado
A divindade é una e nunca muda -
Quem criou-nos está ao nosso lado
Uma vez escolhida a religião
Importante é cultivar a devoção
Manter sempre o espírito sossegado
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CONSULTAS BIBLIOGRÁFICAS E NOTAS
1 FLOR, Guaira, da Meridional. E DEPOIS O QUE ACONTECE?, em O NORTE, ed. de 2/9/2001, pág. F2 e F3.
2 N.T., Evangelho de João, 20, 29.
3 ENCICLOPÉDIA BARSA, vol. 10: verbete ISLAMISMO
4 N.T., Evangelho de Mateus, 20, 27.
5 N.T., Evangelho de Mateus, 16, 24.
6 DE ADÃO A NOSSOS DIAS, Jeovah Mendes.
2000, Fortaleza-Ce: Ed. Prêmio
7 ENCICLOPÉDIA BARSA, vol. 10: verbete HINDUISMO
8 ENCICLOPÉDIA BARSA, vol. 4: verbete BUDISMO
9 CONSTITUIÇÃO FEDERAL, Art. 5.º, VI
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