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Artigos-->Fragrância Feminina na Poesia - Elisa Lucinda -- 21/06/2002 - 19:38 (Fernanda Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fragrância Feminina na Poesia



Estamos dando continuidade a publicação destes pequenos artigos que visam mostrar um pouco da escrita poética feminina no cenário nacional e mundial.

Pretendemos, tão somente, falar da emoção de nossas descobertas literárias ao nos depararmos com a vasta produção feminina na construção de uma identidade poética.

É antes de tudo, uma gota de perfume que permitirá ao leitor curioso, buscar outras essências, a partir da publicação destes textos.



Elisa Lucinda



Elisa Lucinda nasceu no dia 2 de fevereiro de 1958, em Vitória-ES.

Elisa descobriu e apaixonou-se pela poesia em tenra idade. Aos onze anos de idade, ingressa no Curso de Interpretação Teatral da Poesia, ministrado pela professora Maria Filina Salles Sá de Miranda, quando começa a declamar poesias.

Formou-se em Jornalismo no ano de 1982 e, a partir de então, iniciou sua carreira teatral. Em 1986, vem morar no Rio de Janeiro com o filho Juliano. Ingressa no Curso de Interpretação Teatral da Casa de Artes de Laranjeiras (CAL).

Além de escritora, Elisa Lucinda é professora universitária, atriz de teatro, televisão e cinema, mas é sem sombra de dúvidas o “dizer” poesia que mais a encanta e onde ela tem tido maior notoriedade.



No teatro participou de:

- Rosa, um musical brasileiro, de Domingos de Oliveira e Joaquim Assis

- A Serpente, de Nelson Rodrigues

- Bukowski, bicho solto no mundo, adaptação de Ticiana Studart e Domingos de Oliveira



No cinema participou de:

- Referências, de Ricardo Bravo

- A Causa Secreta, de Sérgio Branchi

- Butterfly, de Tonico Servi

- O Testamento do Senhor Nepomuceno, de Francisco Manso

- A Enxada, de Iberê Cavalcante



Na televisão participou da:

- Telenovela Kananga do Japão, de Tisuka Yamasaki

- Telenovela Araponga, dirigida por Cécil Thiré

- Telenovela sangue do Meu Sangue, dirigida por Nilton Travesso

- Minissérie E escrava Anastácia, dirigida por Henrique Martins

- Minissérie Mãe-de-santo, dirigida por Henrique Martins

- Minissérie Preconceito, sob a direção de Herval Rossano

- Minissérie Mulher, dirigida por Daniel Filho



Realizou os seguintes espetáculos solo, shows, recitais e pockets shows, onde a música e a poesia entrelaçam-se:

- A Hora Agá, RJ

- Pode Café, RJ

- O Mar Não Tá Prá Preto, RJ

- Há uma na madrugada, RJ, Lisboa e Porto

- Casa de Mulher, RJ

- Te Pego Pela Palavra, MG

- Dona da Frase, BA, SP e MG

- O Semelhante, SP, RJ, Cuba, Portugal, República do cabo Verde e Canadá



Prêmios recebidos:

- Atriz Revelação no Festival de Cinema Brasileiro (Troféu Candango, 1989 – DF)

- Melhor Atriz no Rio Cine Festival (Troféu Sol de Prata, 1990 – RJ)





Um pouco da poesia de Elisa Lucinda:





Prévia



Quando meu amor ia chegar

e eu nem sabia

preparei já sabendo

uma gaveta de lingerie.

Meu amor se espalhava

se pondo ao sol por entre as rendas

e os biquinhos do soutien

sem seios ainda dentro

pulavam de alegria

espantando a tradição das etiquetas

para fora da gaveta.

Quando meu amor ia chegar

eu fiquei cheirosa de banho

entre essas eternidades

e fiquei quietinha lá na praia

longe do quarto que era certo

como se tivéssemos marcado um encontro.

Eu já quase me chamava sua Dadá e pronto.

Ainda não estava molhada

mas quando meu amor chegou

eu já estava no ponto.







Da Chegada do Amor



Sempre quis um amor

que falasse

que soubesse o que sentisse.



Sempre quis uma amor que elaborasse

Que quando dormisse

ressonasse confiança

no sopro do sono

e trouxesse beijo

no clarão da amanhecice.



Sempre quis um amor

que coubesse no que me disse.



Sempre quis uma meninice

entre menino e senhor

uma cachorrice

onde tanto pudesse a sem-vergonhice

do macho

quanto a sabedoria do sabedor.



Sempre quis um amor cujo

BOM DIA!

morasse na eternidade de encadear os tempos:

passado presente futuro

coisa da mesma embocadura

sabor da mesma golada.



Sempre quis um amor de goleadas

cuja rede complexa

do pano de fundo dos seres

não assustasse.



Sempre quis um amor

que não se incomodasse

quando a poesia da cama me levasse.



Sempre quis uma amor

que não se chateasse

diante das diferenças.



Agora, diante da encomenda

metade de mim rasga afoita

o embrulho

e a outra metade é o

futuro de saber o segredo

que enrola o laço,

é observar

o desenho

do invólucro e compará-lo

com a calma da alma

o seu conteúdo.



Contudo

sempre quis um amor

que me coubesse futuro

e me alternasse em menina e adulto

que ora eu fosse o fácil, o sério

e ora um doce mistério

que ora eu fosse medo-asneira

e ora eu fosse brincadeira

ultra-sonografia do furor,

sempre quis um amor

que sem tensa-corrida-de ocorresse.



Sempre quis um amor

que acontecesse

sem esforço

sem medo da inspiração

por ele acabar.



Sempre quis um amor

de abafar,

(não o caso)

mas cuja demora de ocaso

estivesse imensamente

nas nossas mãos

.

Sem senões.



Sempre quis um amor

com definição de quero

sem o lero-lero da falsa sedução.

Eu sempre disse não

à constituição dos séculos

que diz que o "garantido" amor

é a sua negação.



Sempre quis um amor

que gozasse

e que pouco antes

de chegar a esse céu

se anunciasse.



Sempre quis um amor

que vivesse a felicidade

sem reclamar dela ou disso.



Sempre quis um amor não omisso

e que sua estórias me contasse.

Ah, eu sempre quis uma amor que amasse.





Lágrima do Sétimo Dia

Por favor

não me calem quando eu chorar

É atestado de ciso

é o mesmo que riso

quando eu chorar

Sou poeta

e chorar é minha musculação

Exercício.

Por favor não me incomodem quando eu chorar.

É o macaco

feliz da mutação

é lavação de olho

é a costela de Adão

sentindo

sem ninguém questionar

É Deus descansando

em emoção no sétimo dia

depois de delirar.







Texto para uma Separação



Olhe aqui, olhos de azeviche

Vamos acertar as contas

porque é no dia de hoje

que cê vai embora daqui...

Mas antes, por obséquio:

Quer me devolver o equilíbrio?

Quer me dizer por que cê sumiu?

Quer me devolver o sono meu doril?

Quer se tocar e botar meu marcapasso pra consertar?

Quer me deixar na minha?

Quer tirar a mão de dentro da minha calcinha?

Olhe aqui, olhos de azeviche:

Quer parar de torcer pro meu fim

dentro do meu próprio estádio?

Quer parar de saxdoer no meu próprio rádio?

Vem cá, não vai sair assim...

Antes, quer ter a delicadeza de colar meu espelho?

Assim: agora fica de joelhos

e comece a cuspir todos os meus beijos.

Isso. Agora recolhe!

Engole a farta coreografia destas línguas

Varre com a língua esses anseios

Não haverá mais filho

pulsações e instintos animais.

Hoje eu me suicido ingerindo

sete caixas de anticoncepcionais.

Trata-se de um despejo

Dedetize essa chateação que a gente chamou de desejo.

Pronto: última revista

Leve também essa bobagem

que você chamou

de amor à primeira vista.

Olhos de azeviche, vem cá:

Apague esse gosto de pescoço da minha boca!

E leve esses presentes que você me deu:

essa cara de pau, essa textura de verniz.

Tire também esse sentimento de penetração

esse modo com que você me quis

esses ensaios de idas e voltas

essa esfregação

esse Bob Wilson erotizado

que a gente chamou de tesão.

Pronto. Olhos de azeviche, pode partir!

Estou calma. Quero ficar sozinha

eu co a minha alma. Agora pode ir.

Gente! Cadê minha alma que estava aqui?







Cor - respondência



Remeta-me os dedos

em vez de cartas de amor

que nunca escreves

que nunca recebo.

Passeiam em mim estas tardes

que parecem repetir

o amor bem feito

que você tinha mania de fazer comigo.

Não sei amigo

se era o seu jeito

ou de propósito

mas era bom, sempre bom

e assanhava as tardes.

Refaça o verso

que mantinha sempre tesa

a minha rima

firme

confirme

o ardor dessas jorradas

de versos que nos bolinaram os dois

a dois.

Pense em mim

e me visite no correio

de pombos onde a gente se confunde

Repito:

Se meta na minha vida

outra vez meta







No Elevador do Filho de Deus



A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida

Que eu já tô ficando craque em ressurreição.

Bobeou eu tô morrendo

Na minha extrema pulsão

Na minha extrema-unção

Na minha extrema menção

de acordar viva todo dia

Há dores que sinceramente eu não resolvo

sinceramente sucumbo

Há nós que não dissolvo

e me torno moribundo de doer daquele corte

do haver sangramento e forte

que vem no mesmo malote das coisas queridas

Vem dentro dos amores

dentro das perdas de coisas antes possuídas

dentro das alegrias havidas



Há porradas que não tem saída

há um monte de "não era isso que eu queria"

Outro dia, acabei de morrer

depois de uma crise sobre o existencialismo

3º mundo, ideologia e inflação...

E quando penso que não

me vejo ressurgida no banheiro

feito punheteiro de chuveiro

Sem cor, sem fala

nem informática nem cabala

eu era uma espécie de Lázara

poeta ressuscitada

passaporte sem mala

com destino de nada!



A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida

ensaiar mil vezes a séria despedida

a morte real do gastamento do corpo

a coisa mal resolvida

daquela morte florida

cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos

cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos

que já to ficando especialista em renascimento



Hoje, praticamente, eu morro quando quero:

às vezes só porque não foi um bom desfecho

ou porque eu não concordo

Ou uma bela puxada no tapete

ou porque eu mesma me enrolo

Não dá outra: tiro o chinelo...

E dou uma morrida!

Não atendo telefone, campainha...

Fico aí camisolenta em estado de éter

nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!

Tô nocauteada, tô morrida!



Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa

não tem aquela ansiedade para entrar em cena

É uma espécie de venda

uma espécie de encomenda que a gente faz

pra ter depois ter um produto com maior resistência

onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)

e fica feito a justiça: cega

Depois acorda bela

corta os cabelos

muda a maquiagem

reinventa modelos

reencontra os amigos que fazem a velha e merecida

pergunta ao teu eu: "Onde cê tava? Tava sumida, morreu?"

E a gente com aquela cara de fantasma moderno,

de expersona falida:

- Não, tava só deprimida.







Poema Seringueiro



Gosto de ser do meu homem

de ser pertencente

de recebê-lo em mim

nos seringais da loucura

vem ele como se me abrisse estradas por dentro

ele com sua pistola de paz e inquietação

Amazônia distraída me deito

à doce devastação.







O Estado da Revolução





O desfile da pobreza

no meio do apartheid

feriu-me o peito.

Quero voltar pra casa.

Cuba está doente

Cuba está esquizofrênica

mora de um lado a

fome e a pobreza,

do outro, o dólar

e rei dólar

A Cuba é pra quem pode

comprá-la,

não é para cubanos

os pretos cubanos estão sós

por que na guerra da liberdade

quem venceu foi seu algoz.







Descobridor dos Sete Mares





Beije os lugares que nunca beijaram

Beije, aviste, demarque

finque a bandeira e nasça-me

Beije-me terra à vista

Colombo de mim,

me reze missa

sem preferir a boceta taba das índias.

Eleja-me Brasil

Sem ser fugitivo

sem ser donatário

sem ser donativo.

Queira-me jesuíta honesto

queira-me decerto

como alguém que conquista

o que nunca viu

mas atingiu sem asneiras

a pátria e suas estrelas

a pátria e suas bananeiras

Promova em mim suas entradas

e que as mancadas

possam não ser nossas bandeiras.





Fonte de Pesquisa:

- Sites:

http://www.releituras.com/elucinda_menu.asp

http://www.lumiarte.com/luardeoutono/elucinda.html

http://www.secrel.com.br/jpoesia/elucin00.html



- Lucinda, Elisa

O Semelhante/Elisa Lucinda - 2ª Ed. Rio de Jnaeiro: Record, 2000





Fernanda Guimarães













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