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Cordel-->DOCA PEDRO Um sertanejo do Apodi -- 17/03/2006 - 13:59 (JOAQUIM FURTADO DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DOCA PEDRO
(ao Zootecnista EDIVALDO LÚCIO DA SILVA)


Nas terras do Apodi,
No Rio Grande do Norte,
Lá no sítio Mulungu,
Morava um caboclo forte,
O agricultor DOCA PEDRO -
Boa índole, belo porte.

Enfrentando sempre a sorte,
Do inverno de todoS os anos,
Junto com dona CHIQUINHA
Da vida fazia planos.
Mas sempre a seca voltava
E trazia desenganos.

Vestia paupérrimos panos
Para trabalhar na roça;
Com dois ou três ajudantes,
De mãos calosas e grossas
O sol lhes queimando a pele,
De todos fazia troça.

Mas não há força que possa
Quebrantar um sertanejo -
“Antes de tudo, um forte” 1
Caso se apresente ensejo,
Luta contra as inclemências,
Para atender a um desejo.

Com uma prensa de queijo,
Uma casa de farinha,
Uma roça de mandioca,
Junto da sua casinha,
O roceiro sobrevive;
Nem na seca perde a linha.

Eu nem sei se DOCA tinha
Toda essa riqueza assim.
Sei que tinha alguns jumentos,
Porque contaram pra mim.
Nunca deixou seu torrão,
Fosse o ano bom ou ruim.

A vida seguia assim,
Até que em setenta e dois,
Do século vinte passado,
Que o sol nasceu, não se pôs;
Perdeu o milho, o algodão,
O feijão, a fava, o arroz.

Fiquei sabendo depois,
Por EDIVALDO, seu filho.
Seu DOCA olhava pro céu –
Os olhos tristes, sem brilho,
Até que a paciência
Findou por sair do trilho.

Resolveu ser andarilho,
Nas terras do Maranhão.
Contratou um motorista,
Lotaram um mei’ caminhão,
Com um lote de jumentos
E saíram do Sertão.

Viajaram em direção
Das terras do lado Norte,
Com poucas horas deixaram
O Rio Grande do Norte,
Cruzaram o Ceará,
Seguindo em busca da sorte.

Da desgraça o duro corte
Enfrentando a vida inteira,
Tentava mudar de vida,
Vendendo os jegues na feira
Passando do Piauí,
Foi parar lá em Pedreiras.

Quase uma semana inteira
Só na viagem de ida,
Tratando dos animais,
Cuidando da própria vida.
Nas estradas carroçais
Lembrando a ‘Triste Partida’ 2

Não havia outra saída;
Já perdida a plantação...
Ia conhecer as terras
Das bandas do Maranhão.
Lá Encontrou muito verde,
Diferente do Sertão.

Alegrava o coração,
Ao ver o verde sem fim...
Tanta lavoura plantada,
Nas margens do Mearim:
Todo tipo de legumes
E plantações de capim.

Não podia ser ruim
Um lugar como Pedreiras;
Concluiria o negócio,
Com um lucro de primeira,
Vendendo os jegues a bom preço,
Tão logo chegasse à feira.

Seu DOCA fez brincadeira,
Dizendo ao chofer: “-Compadre,
Vamos ficar é aqui.
Pode escrever pra comadre.
Se ela não quiser vir
Aqui tem fêmea e tem padre!”

Ele respondeu: “-Compadre,
Não brinque assim desse jeito.
Que eu ‘tou morto de saudade,
Chega ‘tá doendo o peito.
Eu adoro a minha véia
E com outra não me deito.”

“Eu sou um homem direito;
Deixe dessa brincadeira.
E nem troco a minha terra
Por essa tal de Pre-dei-ra.
Eu nasci em Apodi
E lá fico a vida inteira.”

Quando chegaram na feira,
Com o lote de jumentos,
Vendeu tudo por bom preço
Quase no mesmo momento.
Ficou lá por alguns dias,
Aguardando o pagamento.

Feliz e rindo por dentro,
Retornou ao Apodi.
Já fazia trinta dias
Tinha saído dali;
Comprara alguns mantimentos,
Chegou em casa a sorrir.

Eu tinha esquecido, aqui,
De relatar pra vocês
Viajaram com seu DOCA,
Nessa aventura de um mês,
Motorista e ajudante,
Somando um total de três.

À noite, depois das seis,
Logo depois do jantar,
Na casa de DOCA PEDRO,
Juntou gente a conversar.
Ele cheio de novidades
E os filhos a escutar.

Também se achava lá,
O fi’ do caboclo BRAZ,
(Pé escorado no joelho)
Já um pequeno rapaz,
Que ao ouvir sobre a fartura,
Se admirava demais.

EDIVALDO era incapaz
De interromper a fala
(Se o pai ‘tá conversando,
Menino sempre se cala,
Não se mete na conversa,
Nem fica cruzando a sala.)

Seu Doca Pedro propala
Tudo o que viu – que fartura! –
Oh, que terra abençoada!
Tanta banana madura,
Laranja, mamão, jerimun,
Variada agricultura.

O café com rapadura
Feito por dona CHIQUINHA,
Logo depois do jantar
No começo da noitinha
Deu lugar, logo depois,
A uma boa caninha.

Novamente a esposa vinha
Trazendo peixes num prato,
Enquanto seu DOCA PEDRO
Continuava o relato:
“-Aquilo é que é terra boa,
Um paraíso, de fato!”

No alpendre, um cão e um gato,
Junto às pernas das pessoas,
Olhavam os restos de peixe –
Não se achavam ali à toa...
Porém, o filho do BRAZ
Dos dois animais ‘caçoa’.

Dona CHIQUINHA perdoa
Os excessos do marido.
Já passava das dez horas,
- A noite tinha corrido –
As crianças mais pequenas
No sono tinham caído.

Com o corpo dolorido
Do enfado da viagem,
Doca Pedro prosseguia
Rememorando a paisagem
Das plantações maranhenses,
Que pareciam miragem.

Como se visse as imagens,
Numa tela de cinema,
O fi’ do caboclo BRAZ,
Num pé só, qual seriema,
Sonhava com o belo quadro,
Do qual o verde era o tema.

Sonhar nunca traz problema
- Como adorava sonhar! -
doca Pedro relatando
as belezas do lugar
e o garoto, deslumbrado,
“-Puxa vida! Ah, nóis lá!”

Continuam a conversar,
O tempo aos poucos se esvai;
Os outros meninos dormem,
EDIVALDO também cai,
E o filho do BRAZ repete:
“Meu Deus...Ah,nóis lá,hein, pai!

* * * * *


NOTAS DO AUTOR


1 CUNHA, Euclides da, OS SERTÕES

2 ASSARÉ, Patativa do (ANTONIO GONÇALVES DA SILVA), A TRISTE PARTIDA, in CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ, Vozes, 2000

3 F. MARQUES. crônica UM EXEMPLO DE CORAGEM (a mesma história deste cordel, narrada em prosa), 2000.




















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