Se for falar de dor...
São tantos os brotos a arrebentar,
ulcerando pele, pensamento e pudor,
que o amor-próprio já grita
aquele grito seco de se retirar,
de se resgatar, enfim...
Contar-me numa história isenta de pecados
e falar de dentro de um porão que soma o "tempo",
é poder por fim, ouvir-me em gemido
feito de voz de advertência, que corta de chofre
o que arde num corpo dolorido
e anuncia:
É hora de sair!
Como poder me mover
se aperta-me, continuamente, estranho medo?
Num casulo, repleto da minha borboleta feita,
precisando me recriar no espaço,
no ar, na minha estrada...
Tornar a criar o sonho que, de tão puro,
se postou como uma negação
tão evidente, como seria impossível
conviver com ele no quarto obscuro,
não povoado, da minha caução!
Me avisto num espelho secreto
que junta desalinhos,
mãos postas implorando caminhos!
Me deixei resguardar pela vida.;
meus olhos viram apenas o "muro"
e eu precisava não somente da luz,
mas também do lado escuro.
Protegeu-me, esta, de sentir cada emoção.
Defendeu-me, ela, dos elos e dos "castelos",
para depois me atirar a totalidade, como condição...
Eu não tive vida...
Aconteceu-me algo,
que por não saber como fazer...
Tentei existir.
»«2003»« Dezembro/02
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