Carta de uma mãe morta ao seu filho
Filho querido, quem está aqui é uma mulher sofrida que, após tantos dissabores, teve a glória de receber-te nos braços.
Uma mulher que passou toda a sua existência a cuidar-te como a uma flor delicada, cujas forças estavam sempre aquém do que eu verdadeiramente desejava.
Imaginava eu que de um dia para o outro, poderias me deixar e, por isso mesmo,desdobrei-me fibra por fibra para dar a ti muito mais do que eu poderia, um dia, jamais ter tido.
Meu amado, vejo agora o meu ledo engano. O erro que cometi quase levou-me à loucura.
Imaginei que me deixarias e jamais supus que seria eu a deixar-te.
Tu, em tua saúde precária, talvez pelo eu excesso de zelo, sobreviveste a mim e eu deixei-o ainda relativamente pequeno para que outras pessoas, caridosamente, pudessem cuidar-te.
Meu filho, digo-te hoje, foste o meu maior tesouro, muito mais do que eu poderia merecer. A minha suprema alegria foi quando pronuncias-te a primeira palavra: mamãe, que soou-me como o mais doce vocábulo jamais ouvido. E, todas as vezes que a repetias, meu coração se enchia de terno amor, fazendo com que eu me sentisse a mais plenificada mulher de todo o mundo.
Todavia, Deus apontou-me o caminho certo, tirando-me cedo de ti para que eu, com o meu desmesurado amor, não te pusesse a perder.
Mesmo assim, a minha influência nos teus doze anos de convivência comigo, foi ainda o bastante para que você se sentisse fraco, desamparado, com uma grande pena de si mesmo, agravada pela orfandade precoce, e se fechasse em seu pequeno mundo , transformando-se em um ser mesquinho, totalmente desprovido do grande amor que eu sempre devotei.
Sofri muito com a separação, meu filho, não diga que foi porque eu o quisesse. Deus é sábio e perfeito. Temos que nos curvarmos ante a Sua vontade soberana.
Gostaria de deixar-te essas palavras e mais um pensamento materno:
Não maltrate jamais a mulher alguma, filho. Nós mulheres parecemos frágeis mas temos em nós a força necessária para gerar uma pequena semente, doá-la ao mundo, cuidar para que a tenra plantinha venha a se tornar uma árvore frondosa, e, ao mesmo tempo, temos a ternura de uma flor, a delicadeza de um botão.
Somos nós que fazemos de vocês homens valorosos, com os nossos cuidados, com os nossos exemplos. Da hora em que os trazemos ao mundo terreno, à hora derradeira, sofremos como se o espinho terrível estivesse em nós cravado, enquanto aspiramos o doce perfume da rosa.
Quero que continues em tua jornada terrena, meu filho, pensando em quantas mulheres passaram por tua vida e, em quantas delas enxergaste a mãezinha que te embalou o sono, pensou-te as feridas e amainou as tuas dores...
Respeite-nos como seres muito especiais, filho, pois, pela nossa vontade, a vida vai se renovando sobre a face da Terra.
Fique em paz, querido .
Pense com carinho em minhas palavras.
Do meu coração materno saem jatos de luz que enxugarão as tuas lágrimas que, porventura, marejem os teus olhinhos ao ouvir estas palavras.
Espero com isso, exotar-te ao bem, ao bom caminho e, um dia, se Deus assim o quiser, embalar-te-ei novamente em meus braços, continuando o que foi interrompido por um ressarcimento de dívidas.
Serei sempre a tua mãezinha. Ou o teu anjo bom, se assim o quiseres.
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