AGORA, JÁ NÃO O SÃO
Elane Tomich
Somos nós de muitas águas,
em substãncia e percurso...
Veja o rio em sua viagem,
liqüifeitos, pedregulhos
de todos, um só discurso.
Parece, do tempo, estrada,
saga da sede cantada,
lágrima que enxágua mágoas,
dobrado, adeus na bagagem,
da humanidade, mergulhos,
mil buracos, mil entulhos
a prece que não foi dita
tantos, sem ti, ninguém,
em águas passam , passaram,
a promessa não cumprida,
o desejo inconseqüente
degosto como refém,
desejo de ser emoção,
gente querendo ser gente
em incerto mar desguam
agora já não o são!
O rio nada esperto,
por baixo do espelho quieto,
como suspiros freqüentes
bombeando o coração,
qu em eco de águas levaram,
lavaram o triste e deixaram
numa ilha de memória,
força, contra a corrente
onde é difícil escolher,
como contar nossa história:
se, em roda de entardecer,
se em festa de serestas
em frestas mil derramaram,
agora, já não o são.
No largar, largo do rio,
no jogo de vai não volta,
vai-se o quente, fica o frio,
esperança respingada
largando-se em brisa solta,
em asas de premonição
nos apelos da razão,
a ilusão que resguardaram,
agora, já não o são.
Do fogo-apagou, o pio,
não cabe no desvario
da pressa das corredeiras.
Agora, do rio, o contrário,
a quietude das beiras
brinca com quebras de horários.
A cachoeira aclama
mil paixões de contramão
um pingo d água exclama
bem-viveres de antemão
agora, já não o são.
Ninguém segura este rio,
só uma represa pós fonte
guardando a vinda da espera
no esquecer do horizonte.
Brincando com a quebra das horas
o tempo, mói-se em quireras.
O burburinho aceita
o que o silêncio, rejeita.
Um canto de ir embora
no grande estuário da foz
num derrame de ´paixão,
onde lavo minha voz.
Águas puras, eu nem tanto,
no braço d água que esfria
coisas da vida em meu canto,
levitando em pradarias,
agora, já não o são. .
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