Era dia de jantar na casa do padrinho. Dia especial, em que se tirava a barriga da miséria.
Guilherme ansiava para que amanhecesse; não só pela comida, mas também pelo contato com almofadas macias, copos de cristal, talheres limpinhos... Tudo limpo!
As folhas de alface pareciam transparentes, de um verde apetitoso, que dava água-na-boca. Imagine... Verdura despertar apetite de menino... Mas na casa da Dinda, sim: era tudo de fazer arregalar os olhos.
As florinhas feitas com tirinhas de tomate enroladinho, pareciam rosas contornando um campo imenso de verde... Agrião, brócolis, salsinha...
Hummmm... A mesa parecia um parque de festa, onde tudo tem cor e harmonia!
Começou a bater de leve no copo de cirstal, com a faquinha; e o parquinho colorido tinha música agora.
Sua mente voou para seus sonhos, bem distante das noites de fome, onde o arroz com feijão mal dava para ele e os quatro irmãos.
Passeava por campos floridos, montado em um potrinho manso da cor do sol.
Por vezes, passava por riachos azulados, cheios de peixinhos dourados. E parava para decansar e beber daquela água pura; o cavalinho também.
Após o rio, percebeu que o caminho se estreitva. Foi sem medo...
À sua frente estendeu-se um cenário sem igual:
Um pomar, em miniatura com laranjeiras, cerejeiras, pessegueiros e carreirinhas minúsculas de parreiras, de onde pendiam cachinhos de uvas tão madurinhas, que exalavam seu perfume pelo ar...
Seria o Paraíso?
Mais adiante, pequenos seres, de forma humana, mas do tamanho de seu polegar... E descansavam da labuta do pequenino campo frutífero.
Pela encosta verde viam-se alamedas de florinhas de todas as cores, formando um arco-íris, onde se lia: "Cidade do Amor Perdido"...
Passou, então, na cabecinha de Guilherme uma feliz idéia: