Êta, três semanas. As mais duras certamente. Desde então não conhecia sossego, e mesmo sorrir custava caro.
_São os dentes! dizia o próprio, explicando entre desvios a copos transbordantes e beijos fortes.
_Tudo bem, já vou olhar. Dizia, respondendo a amigos e a humanóides humanistas.
Mas ele sabia. Sabia que mesmo boêmio largado, com um suspeito passado niilista, era hora de “dar uma olhada” nos dentes.
_Um odontólogo!
Sim, um odontólogo, e logo o primeiro que fora, 600 reais. Velha insana, cara enorme, dentista do Queens. De onde eu tiraria esse dinheiro? Velha açougueira.
Estado desgraçado, abandono insosso, todos os dias awshiwits nos toca a cara, carcomida; qualidade total!
Conseguiu uma consulta (a custa de jeitos, ele odiava isso, sabia de quem era a responsabilidade).I love Cuba, dondestas?
Consegui na segunda, mas só ia ser atendido na sexta, ou seja, uma semana de dor.
Sabem senhores, da dor de uma semana? de uma semana preso, uma semana para o fuzilamento, uma semana para o casamento, a uma semana do dentista, uma semana de dor!
Dor!
dordordordordordordordordordordordordordordordordordordord
Toda dor que houver nesta vida pra vocês!
Mas seguras, Oliveira, seguras que não tem jeito, segura que luta, labuta, coice nosso de cada dia é mudança.
Variante invariável até a vitória.
E daí a vitória da vitória. Entendes?
E daí, já é sexta, entendes?
Acordo cedo e vou. Vai Daniel.
Chego. Chego e persevero.
Se não for atendido, suicido.
Fui.
Um anjo em forma de cubano branco, com a dor em uma mão e o alívio em outra. Dor branca.
Toda uma história recente incrustada, tudo que poderia e não foi.
Agora o sorriso retorna, jovial (êta!).
Na luta, precisa-se de bons dentes.
DANIEL OLIVEIRA
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