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Textos_Religiosos-->Por que a viagem de Bento XVI à Turquia é tão difícil? -- 22/11/2006 - 16:06 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por que a viagem de Bento XVI à Turquia é tão difícil

Entrevista ao islamólogo e padre branco Justo Lacunza Balda

www.zenit.org

ROMA, segunda-feira, 20 de novembro de 2006 (ZENIT.org).- A Turquia é uma república leiga em cuja identidade o islã desempenha um papel importante. É a convicção do especialista Justo Lacunza Balda, missionário da África (conhecidos como padres brancos) e professor do Pontifício Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos de Roma (PISAI), do qual foi reitor de 2000 a 2006.

O padre Lacunza se licenciou em Língua Árabe e Estudos Islâmicos no PISAI e é doutor em Línguas e Culturas Africanas pela Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS) da Universidade de Londres.

Sua missão se desenvolveu em vários países africanos e, entre outros prêmios, recebeu a «Placa de Reconhecimento pela Contribuição ao Diálogo de Civilizações», apresentada pelos Embaixadores da Ásia ante a Santa Sé em 1999.

O padre Lacunza confessa à agência Zenit que pessoalmente «não vê por que motivo» a Turquia teria de entrar na União Européia.

Sobre o caminho que Bento XVI empreendeu de diálogo com o islã, o padre Lacunza sublinha três aspectos: a aplicação do binômio fé e razão ao diálogo intercultural e inter-religioso, o reforço da identidade católica e a defesa da liberdade de expressão.

--O Papa vai à Turquia em poucos dias em uma viagem que criou uma alta expectativa. Por que não é uma viagem fácil?

¬--Pe. Lacunza: A Turquia é uma república leiga, democrática e secular. O Estado não tem uma religião oficial. Mas não podemos esquecer que a maioria da população na Turquia é muçulmana.

Portanto, entram em jogo as relações da Igreja Católica com um país de maioria muçulmana, e isto é difícil sob o ponto de vista das minorias cristãs, da liberdade religiosa e das atividades pastorais.

É uma viagem difícil porque neste momento crucial a Turquia está pleiteando sua entrada na Comunidade Européia. Pessoalmente, não vejo por que motivo a Turquia deveria fazer parte da União Européia. Basta ver sua situação geográfica para se dar conta disso. Nós nos esquecemos que a Turquia tem fronteiras com Irã, Iraque e Síria? O centro do problema é que é preciso analisar uma por uma as dificuldades e não dizer precipitadamente: «sim, a Turquia faz parte da Europa».

O fato de que o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan não receba o Papa é um fato significativo que não ajuda a fortalecer as relações entre a Santa Sé e a Turquia.

--A Turquia recorda que respeita os direitos humanos. É realmente assim?

--Pe. Lacunza: Tudo está no que entendemos por «direitos humanos». Se é preciso defender o ser turco e isto leva a impedir que as pessoas livremente mudem de religião, então há um problema real de direitos humanos e de liberdade.

Se identificarmos o termo turco com muçulmano, resta muito por fazer. É preciso ver se as minorias cristãs se sentem livres. A idéia do Estado islâmico na Turquia não foi nunca descartada por parte das correntes islâmicas.

--Como é o islã turco?

--Pe. Lacunza: A herança do período otomano se entronca com o nascimento da Turquia moderna em 1924. Ninguém pode negar que o Islã é um dos elementos de identidade nacional na Turquia.

A própria bandeira, símbolo da unidade nacional, confirma isso. O Estado não tem oficialmente nenhuma religião, e deste modo controla as pressões de quem quer uma presença mais efetiva do Islã nas instituições.

--Por que não se consegue que a Igreja Católica seja entendida como uma entidade moral de utilidade pública no território turco?

--Pe. Lacunza: É sempre difícil mudar a história. Reconhecer a «utilidade pública» significa mudar o tipo de relações institucionais. Desta mudança emana todo o resto. Os muçulmanos turcos podem adquirir propriedades na Europa para suas mesquitas, escolas e atividades. A Igreja Católica goza das mesmas liberdades?

--Como islamólogo, o senhor considera que Bento XVI está dando passos significativos no diálogo com o islã?

--Pe. Lacunza: Creio que o Papa está certo da necessidade do diálogo entre cristãos e muçulmanos no âmbito cultural e religioso.

Ele o afirmou em seu discurso de Colônia, em agosto de 2005, em sua visita à Alemanha por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, quando falou com representantes muçulmanos. Bento XVI o afirmou em várias ocasiões.

A meu parecer, o pontífice está seguindo três caminhos, com uma só meta, a de fazer-se portador da missão da Igreja no mundo. Em certo sentido, é a continuação da missão apostólica de seu predecessor, o Papa João Paulo II.

O primeiro passo é aplicar o binômio «fé e razão» ao diálogo inter-religioso e intercultural, especialmente nas relações com os muçulmanos, que parecem ser as mais difíceis e conflituosas.

Este desafio está dirigido a todos os católicos, a todos os bispos e a todas as instituições eclesiásticas. O diálogo não se inventa sem o interesse, os conhecimentos e o saber. Mas a ação de Bento XVI vai dirigida também às instituições públicas que têm tendência a desprezar a religião, a sufocar a fé dos crentes e a difundir a idéia de que crer é algo do passado. O cinismo no campo religioso é um câncer perigoso de nosso tempo.

O segundo passo é construir com sabedoria a identidade religiosa dos católicos e defendê-la com inteligência.

É importante que os católicos saibam o que significa ser crentes cristãos. Para isso, são necessários a educação, a catequese e o progresso da fé. É o único caminho para que os católicos se preparem para o diálogo inter-religioso e intercultural. Este resulta árduo e difícil quando a identidade cristã dos católicos titubeia e se treme. Se a fé se reduz a um verniz reluzente, todo diálogo levará consigo o medo, os preconceitos e o enfrentamento.

O terceiro passo é por o dedo na ferida e afirmar rotundamente que os defensores da fé não podem apelar à violência para justificar suas próprias ações. Neste sentido, a liberdade de expressão tem que ocupar um lugar central em toda forma de diálogo intercultural e inter-religioso.

O discurso de Ratisbona, que não era um discurso sobre o islã, levantou muitas críticas, manifestações e polêmicas, dentro e fora da Igreja. Isto indica que resta muito caminho por percorrer e que nem sempre as vozes se harmonizam.


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