Minha costureira tirou os alfinetes da boca, e lá de baixo da barra da minha saia, levantou os olhos aguados de tristeza, e me disse:
É difícil ficar sem amar. Ficar sem amor. Dá um vazio na gente.... Por isto fico procurando o que amar. Ontem foi um vestido que terminei - amei cada pedacinho dele. Outro dia foi uma prega que acertei. Sofri, mas amei quando terminei. Depois, agora, estou sem nada pra amar. Estou amando fazer esta barra, não me leve a mal. Mas amar mesmo é outra coisa. Agora, não me peça pra fazer vestido de noiva. Isto só me faz sofrer. Porque amar mesmo só amo uma vez. Foi quando fiz o meu próprio vestido de noiva. E você vê, deu no que deu.
Enxugou uma ou duas lágrimas com as costas das mãos, enfiou alfinetes entre os dentes e me disse, mais murmurando:
Dá uma voltinha aí pra eu ver se a barra está acertada.
Era uma tarde de sol lá fora. Dentro da sala da costuereira senti uma nuvem cinzenta, pesada. Longe longe na minha imaginação flutuava um vestido de noiva, que ela fez e amou, mas com ele aprendeu a desamar. |
