Quero fazer as malas,
sair logo de partida,
para uma longa viagem.
Viagem só de ida,
Levar comigo coragem.
Não quero mais comigo,
dentro da minha bagagem,
tristeza, vergonha, desabrigo.
Uma viagem que não tem destino,
mas segue o caminho do sol.
Sem pressa, agonia, desatino.
Corpo solto, sem amarras,
peixe solto do anzol.
Não quero deixar vestígios,
não quero deixar sinais.
Nada do que é antigo
passará por novos portais.
Vou seguir sem olhar nada.
Não olho para os lados,
nem quero olhar para trás.
A dor que me acompanhou
por estradas pedregosas,
em dias escuros, noites ansiosas,
há de se tornar cinzas
do fogo em que minha alma queimou.
Quero jogar fora, lançar no espaço,
tudo que foi resto, pedaço, bagaço.
Seguir inteira por um caminho ensolarado,
colorido por flores pintadas de alegria,
livre de medos, coração desamarrado...
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