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Cronicas-->A CASA ROSA -- 18/02/2003 - 08:23 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A CASA ROSA
JB GUIMARÃES
Escuto um som oco. É de cavadeira que perfura o solo. Escuto um som estridente. É de martelo que faz a marcação. Observo que ali principia uma casa. As casas invariavelmente nascem de um traçado. Um traçado que, feito no papel vegetal, ou na terra molhada de um chão batido, a meu ver, traz consigo os traços da personalidade do dono.
Uma casa, o que costumamos chamar de casa própria, é composta de partes que cumprem uma função toda especial, bem particular. Na medida do possível, de acordo com as posses de cada um, a casa vai tomando forma. Quartos são dispostos para preservar a intimidade, cozinha e varadas ficam em pontos que dão melhor comodidade, jardins são projetados para dar leveza . Mas, se para muitos não for assim, a casa dos sonhos pode vir também através de um contrato de mutuo em 25 anos. E, de uma forma ou de outra, quem conseguir realizar o sonho, um dia vai pintar a casa de branco, de verde, ou de rosa.
A construção de uma casa constitui-se em um rito sagrado. Já pela manhã, conversas dos trabalhadores se misturam com o tilintar das ferramentas. O arquiteto grita o traço, o mestre usa o compasso, o servente estica a linha. Cada um, ao seu tempo, conta do dia que passou . O dono observa os primeiros buracos, os primeiros tijolos e a primeira betoneira de concreto. Por muitos dias repetem esse ritual. Em seguida vêm a primeira, a segunda laje. Em sendo uma casa mais simples, chamam-se os amigos, faz-se um mutirão, organiza-se uma festa para bater a laje de uma só vez. Em sendo uma casa de dono abonado, a feitura da laje também não deixa de ser motivo de comemoração. É o dia em que os serventes vão para casa, satisfeitos, melhor remunerados.
Com o tempo, aquela idéia de casa torna-se algo concreto. Já é possível caminhar pelo interior. Estabelecer uma noção de espaço. Ainda sem reboco, é possível também deduzir se aquele móvel que traz as lembranças dos pais ficará melhor disposto naquela sala construída especialmente para ele. O dono sente-se vitorioso. É o projeto de vida que vai se desabrochando. É o que dá em troca do gosto do doce beijo da mulher amada, é quando vislumbra o filho a dar os primeiros passos. Portanto, a construção de uma casa é um ato de amor, é o instinto da preservação.
Se passam dias, se passam anos, então é acertado dizer que um pedaço de vida também edifica a obra. Quando chega a hora do acabamento, o dono é tomado de emoção. O gosto pelas coisas boas o sacrifica. É preciso não sucumbir às vaidades pessoais. É quando tem que decidir, com convicção, que um azulejo em filete dourado talvez não seja a melhor solução; decidir se uma parede chapiscada, naquele momento, é mais recomendável do que uma parede em azulejo branco. O homem que mora na casa que construiu, quero crer, é um homem equilibrado.
Não é prudente adquirir uma casa à custa de roubo, ou construir à custa de sacrifícios de outrem. Um senhor, muito rico, riquíssimo mesmo, edificou uma casa à custa de maldição. Por várias vezes, jorrou sangue de pedreiros na argamassa. Finda a construção, em seguida mudou-se. As janelas eram de vitrais, salvo engano, importados da França. Um certo dia, notou que no vitral do quarto aparecera uma mancha de cor róseo-escuro. Diziam ser sangue. Mandou lavar, mas a mancha não saiu. Por várias vezes trocara o vitral, mas a mancha aparecia nos vitrais trocados. Optou por eliminar aquele vitral, mas a mancha apareceu no outro. Eliminou o outro, quando deu por si, havia eliminado todos os vitrais. Eis que a mancha aparece nos vidros de uma porta. Eliminou a porta, a mancha aparecera na outra porta; eliminou todas as portas, quando deu por si, estava preso na própria casa. Era uma casa rosa...
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