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Cronicas-->Monalisa -- 17/02/2003 - 08:13 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Monalisa
JB GUIMARÃES
Era na primavera 1971, eu adolescente, de passagem, vindo dos arraiais, fiquei deslumbrado com a praça Tubal Vilela. Os canteiros de rosas estavam bem cuidados, a grama muito bem aparada, os calçamentos limpos, os lagos repletos de água clara e decorados com peixes ornamentais. Juscelino estava soberbo.
A fonte funcionava, havia poucos transeuntes e nenhum ambulante. Da praça, sentado em um banco limpo, à sombra de uma palmeira robusta, podia-se contemplar a imponência dos poucos prédios recém-construídos, a arquitetura moderna do colégio estadual e o relógio na torre da matriz. Era o tempo em que a maioria dos adolescentes que residiam no centro da cidade usufruía a praça como um ponto de lazer.
Lembro-me que, próximo à praça, numa esquina, havia uma loja de discos - a Discolàndia. E, como de costume, uma caixa acústica no lado externo da loja, na calçada. Ouvia-se uma música cuja letra o autor comparava a sua menina amada aos mistérios e trejeitos de Mona Lisa. Era uma balada, ou melhor, um rock lúdico, singelo. Uma versão, talvez, com uma letra despretensiosa, num ritmo compassado, cantada com sorrisos largos, que imprimia a sensação de estar pisando nas nuvens. "Sorriso de Mona Lisa, Olhos de Mona Lisa, rosto de Mona Lisa". A singeleza da música se confundia com a da praça. Música e praça se confundiam com a singeleza dos adolescentes da cidade-jardim.
Era no inverno de 1968, numa pequena biblioteca publica, remexia uma estante de livros e descobri Mona Lisa de Leonardo da Vinci. Fiquei parado, obcecado. Ela despertou em mim instintos "obscenos"; "instintos mais sacanas" diria o adolescente de hoje. Se não concordas, perdoa-me Da Vinci, mas Freud há de concordar: olhar para Mona Lisa, era como olhar para uma tia lascívia instigando-me a olha-la pela fresta da porta do quarto e depois pedir-lhe para dormir de companhia; sentir maciez do corpo avantajado sem nunca lhe haver tocado.
Era sábado de final de ano - mais precisamente o último sábado do ano 2000. Um sábado festivo, véspera de fim de século e de milênio. Passava pela praça Tubal Vilela e, mais uma vez, senti-me atraído por uma melodia, agora, tirada de uma choramingante flauta "pan", que vinha de um dos recantos da praça. Um músico andarilho, vindo dos Andes, tocava perfídia. Voltei a contemplar a praça. Notei que os calçamentos e bancos estavam sujos e os lagos estavam turvos; que estava tomada de ambulantes que vendiam passes, discos piratas, raízes, pequi... que havia caça-níqueis instalados nas bancas de revistas e que a catedral estava cercada com grades. Neste mesmo dia impliquei com uma pomba. Uma pomba diferente. Uma pomba que não era grande e nem pequena. Nem do campo e nem da cidade. Que não sabia ser se cascavel, cabocla ou de arribação. Uma pomba mansa, misturada, conformada, ao que me parece acovardada.
Nesse dia, mais tarde, soube que uma garota, por nome de Monalisa fora assassinada; que a encontraram num terreno baldio, corpo nu e estrangulado.
Não cabe a mim decifrar Monalisa. Salvo a indignação que fiquei, pouco importa ser ela uma garota de programa, vítima das drogas, mais isso e mais aquilo. Indignação, entretanto, pela repetição dos fatos dessa natureza com menores. Monalisa é mais uma garota de 15 anos, vítima das cidades grandes, que dividem espaços com pombas-de-bando. Ela é igual a tantas outras; para ser mais exato: como Mary, também de 15 anos, que fora vítima de estrupador; depois registrou a queixa e ficou por isso mesmo. Aventaram: " - Mistérios!!!" " - Mistérios?" "Mistérios têm o sorriso de Mona Lisa de Da Vinci". De resto, são investigações não conclusas, penso eu.
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