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cronicas-->Carro Preto (terror e morte) -- 15/02/2003 - 15:36 (Fábio Sousa Queiroz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os termómetros marcavam trinta e nove graus e os relógios, meio-dia. A estrada deserta, com esse calor, parecia derreter transformando-se em pequenas e grandes poças de água. Os arbustos tremiam com o vento morno que vinha do sul e a areia vermelha das margens dançavam em uivantes redemoinhos.
Subir a serra até que foi bom - pensou o rapaz - mas voltar para casa sozinho a pé nesse calor era uma droga. Mesmo tendo enfrentado diversas aventuras, Paulo, em seus quinze anos de inexperiência e burrice, nunca enfrentara algo tão desesperador. A ida à serra foi feita de carro com um grupo de amigos. "Que saudade do ar condicionado" - sussurrou ele. A essa altura já estava bastante arrependido de ter aceitado o desafio de voltar sozinho.
Em duas horas nenhum carro havia passado pela estrada, mas ele estava firme na idéia de pedir carona a qualquer caminhonete velha que fosse. Quase uma hora da tarde, o silêncio foi cortado pelo macio ronco de um motor. Paulo olhou atrás de si e viu aproximando-se um belo carro preto cujos faróis mais pareciam olhos raivosos espreitando a presença de um inimigo. Os vidros eram escuros e assustavam só de olhar. Ele resolveu não esticar o braço para dar sinal nem olhar para trás de novo. Baixou a cabeça e fitou o asfalto como se procurasse alguma coisa, não acreditava que aquele carro parasse nem se ele se pusesse deitado no meio da pista. Percebeu quando o carro passou por ele não muito veloz. Sentiu um frio na espinha quando, subitamente, a uma distància de dez metros, ouviu o assobio dos freios e viu o vermelho das luzes traseiras.
O que poderia ser? Algum conhecido? Algum motorista camarada querendo ajudar um aventureiro desamparado? De qualquer forma, Paulo não alterou seus passos, mas o coração já batia mais forte e a respiração acontecia mais lentamente. Ao tentar passar pela lateral do veículo, a porta da direita abriu-se bruscamente à sua frente obstruindo a passagem. Anestesiou-se ao respirar fundo o ar gelado que vinha lá de dentro. Ótimo, refrescante, delicioso! O que fazer agora? Ora! Olhe pro lado e veja quem está ao volante!
Era uma figura demoníaca, os olhos eram totalmente negros enterrados na face verde feito lodo, cheia de protuberàncias que estouravam constantemente derramando um líquido viscoso e amarelo tão fedorento quanto um cadáver apodrecido na água.
"Quer carona?" - perguntou a moça, lá de dentro. A voz doce dela dissipou aquele pensamento maluco que lhe veio à mente em um primeiro momento por causa do calor. Uma voz tão doce! Estupidamente sensual! Diz que sim, seu burro! Entra logo, quem sabe você não consegue uma boa transa pra compensar a tua idiotice de voltar para casa só! Como dizem, os pensamentos são mesmo velozes, pois, em meio segundo, a voz de seu consciente disse isso tudo.
Ela o convidou a entrar e ele o fez muito constrangido devido o suor e o fedor do seu corpo. É o jeito... Entra logo e não esquece da transa! Cala essa boca!
Finalmente puseram o pé na estrada e dez minutos depois todo o suor havia evaporado e o calor ido embora. Agora sim poderia se concentrar na beleza da mulher. Pele alva, cabelos louros, olhos azuis, nariz afilado e a boca. Ah, a boca! Linda, vermelha, carnuda, gostosa!
Em trechos menos planos da estrada, os seios dela balançavam tão graciosamente indo de encontro um ao outro para logo se separarem fazendo os mamilos descreverem um semicírculo no ar.
Não houve diálogo entre os dois, mas tudo corria bem e a viagem seguia tranquila, infinitamente boa. Ele estava bastante excitado e punha as mãos por sobre as pernas para disfarçar a dureza do seu membro. Limitou-se a observar o reflexo da mulher que se projetava na parte interna do vidro ao lado. Algum tempo depois, como estava cansado, reclinou o banco e pós-se a cochilar. O trepidar do carro não o fez acordar, mas aquele sono profundo foi perturbado pelo toque suave e quente da mão da moça em sua coxa. Ele olhou de lado um pouco assustado, porém gostando muito, pois aquela excitação do início voltou bem rápido e mais forte. Com movimentos circulares ela quase tocava-lhe o membro fazendo Paulo chegar ao clímax. Para ele tudo aquilo era maravilhoso, nenhum de seus amigos acreditaria, pensava ele. Por acanhamento ele conteve um gemido que saltava-lhe da garganta e fechou os olhos esperando algo novo. Mas o que veio depois não foi nenhum pouco agradável, Paulo sentiu todos os ossos de seu corpo esquentarem terrivelmente, e gritou.
Embora seus gritos fossem os mais aterradores já ouvidos, a mulher ao seu lado não moveu nenhum músculo. Subitamente todo o calor dos ossos concentrou-se no seu pênis, causando dor ainda mais terrível. Pós a mão no local na tentativa de amenizar a sensação e constatou, horrivelmente surpreso, que nada mais estava no lugar, tudo havia desaparecido. Taí, seu burro, idiota! E agora?! Nada mais de punhe... muito menos sexo de verdade! Depois disso veio o pior. A dor agora espalhou-se pelo corpo todo e a pele começou a se dissolver deixando amostra músculos e tendões. Ai como arde! Meu Deus, me ajude! Está ardendo muito! Os outros tecidos começaram a se desfazer em uma fumaça fedorenta e ácida. Mesmo que já parecesse morto, continuava sentindo dor, quando restavam-lhe apenas os ossos foi que ele finalmente morreu e estes também pulverizaram-se espalhando-se pelo ar dentro do carro e desaparecendo em seguida.
Quando não sobrou nenhum vestígio da passagem de Paulo por ali foi que o carro sumiu dentro de uma nuvem que oscilava em diversas cores.
O mistério do desaparecimento de Paulo nunca foi solucionado e dez anos foi o bastante para o caso ser esquecido por aqueles que não o conheciam de perto.
Exatamente dez anos depois, na mesma estrada, os termómetros marcavam trinta e nove graus e os relógios, meio-dia. Naquele calor Fabiano esperava algum carro passar, qualquer um serviria. Foi quando ouviu o macio ronco de um motor...
Fábio S. Queiroz
22/01/2003
13:45


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