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Cronicas-->O Ónibus (inveja e morte) -- 15/02/2003 - 15:29 (Fábio Sousa Queiroz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O garoto caminhava o mais rápido que podia, eram quase sete da manhã e ele não queria chegar atrasado à prova de matemática. Evitava correr, pois não queria suar, mas mesmo assim seu andar ligeiro dava a ele um ar ridículo, porque, andando àquela velocidade, perdia todo o seu charme.
Era realmente estranho, pois, a cada passo dado, seu corpo balançava como se ele estivesse pisando em buracos espalhados pelo caminho.
Nove minutos depois de sair de casa ele chega ao ponto do ónibus. No caminho todos olhavam para ele com um desprezo inexplicável, inexplicável sim, pois, mesmo que ele andasse com um ar de superioridade no rosto ao manter o queixo levantado e coluna bem reta, Dionísius não era de esnobar ninguém e tratava todos com extrema justiça e dignidade. Talvez esse fosse o motivo de tanta raiva (inveja seria a melhor palavra!). para aquelas pessoas, era irritante ver uma garoto daquela idade (treze anos, apenas) Ter tão boa aparência e maturidade.
A ira dos invejosos é uma coisa diabolicamente perigosa, pois estes estão sempre à espreita, em busca das mínimas falhas. E, na maioria das vezes suas tentativas são frustradas pela nobreza de espírito dos humanos que motivam sua inveja. É aí que o perigo reside! Vendo que não achou motivos para ridicularizar o caráter da vítima, sua raiva aumenta, transformando-se em perversidade. Estes seres repugnantes, a partir daí, passam a inventar histórias sobre a índole da pessoa para envenenar os outros, e geralmente conseguem, pois todos são vulneráveis a acreditar em comentários maldosos logo de cara.
Finalmente chega o ónibus. Todos se amontoam junto à porta esperando a oportunidade de entrar na frente dos outros aos empurrões. Dionísius nunca se comportava assim. Ele sempre esperava a última pessoa entrar.
Desde a sua saída de casa, Dionísius percebia a garoa fina no ar e sentia-se bem com o toque das gotas em seu rosto. Os pingos ficaram maiores pouco antes de ele chegar à parada. Não havia onde se abrigar, pois todos já estavam apertados embaixo da cobertura do ponto de ónibus.
Quando chegou a vez dele de entrar no ónibus, a chuva engrossou de vez, deixando-o diante de um dilema: esperar o homem gordo desbloquear a passagem para ele entrar ou voltar para se abrigar da chuva. O melhor foi voltar, porque o "bola-de-sebo" não saiu da frente... por pura maldade mesmo (o leitor que não quiser acreditar, que fique à vontade!) ele ficou lá, parado.
Uma espécie de sintonia satànica entre o motorista do coletivo e o gordão, fez com que, além do bloqueio da passagem, o ónibus se deslocasse lentamente, forçando o garoto a acompanhá-lo com alguns passos.
O tempo entre o começo da subida e o arranque definitivo do motorista, sem dar chance a Dionísius de subir, não foi muito, mas foi o suficiente para deixá-lo molhado e em situação friamente constrangedora.
Aqueles dois, o motorista e o "saco-de-banha", foram embora com um sorrisinho sarcástico impresso na crueldade dos seus rostos. Adeus! Assim teria dito o garoto se soubesse do trágico destino daquelas duas figuras.
Ao contrário disso, ele simplesmente voltou quase chorando (quase chorando!) para a proteção. Deus! Era só um menino, uma criança de treze anos! Por sorte, sorte mesmo, logo atrás vinha um ónibus que fazia o mesmo trajeto até a escola. Foi bem diferente agora. Ele conseguiu subir logo e, tão rápido quanto a subida, ele se sentou, procurando esquecer o episódio anterior.
Os dois ónibus se encontraram no terceiro sinal vermelho da avenida. Percebendo isso, Dionísius abaixou-se na cadeira evitando ser observado pelos passageiros do ónibus ao lado. O sinal abre e os dois veículos sobem o viaduto logo à frente. Este viaduto tinha o perigoso formato de um "c" e, para motoristas irresponsáveis, o perigo era aumentado duas vezes.
Falando em motorista irresponsável, esta era a principal característica daquele do outro ónibus. E, fazendo jus à sua fama, o dito cujo tenta ultrapassar o coletivo em que nosso amigo Dionísius estava (em cima de um viaduto!!!) para assim poder "roubar" os passageiros deste, que esperavam ansiosos pela chegada do próximo ónibus.
Sabe como é, né? Pista molhada, descida do viaduto... coisa boa não pode dar. E, finalmente a tragédia acontece. Antes mesmo de realizar a ultrapassagem o motorista perde o controle do veículo. Cruza a pista à frente do segundo ónibus, raspando de leve o pára-choque deste, forçando-o a parar para evitar perder também a estabilidade.
O coletivo foi de encontro à mureta de proteção com toda a força, esta não resistiu ao impacto e quebrou, deixando o veículo cair de bico de uma altura de vinte metros, levando junto trinta vidas.
Os passageiros do ónibus de trás desceram muito curiosos para ver as consequências do acidente. Assim também o fez Dionisius. Lentamente o garoto se aproximou da beirada do viaduto para, finalmente, ver o veículo deitado de lado, com a dianteira toda destruída e soltando uma fumaça branca do motor.
As pessoa lá embaixo já se amontoavam, mas o garoto, aqui em cima permaneceu, estático. As lágrimas caíam-lhe do rosto. Deus! Este menino era mesmo só uma criança, um menino, independente dos seus treze anos.
Lá ficou, chorando. Sem saber que, das trinta vidas precipitadas no abismo, apenas duas tinham se perdido... a do motorista e a do homem gordo.

Fábio S. Queiroz
11/02/2003
16:40
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