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cronicas-->Herança -- 15/02/2003 - 00:40 (Carlos Eduardo Canhameiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Herança

Carlos Eduardo Canhameiro

Ela caminhava a passos rápidos. Seria uma moça comum se não fosse o fato de ter vinte e seis anos e ainda ser virgem. Carregava a bolsa entre as mãos apoiada ao peito. Não era feia, apenas comum demais para ser notada. Era noite e o caminho de volta para casa sempre parecia mais longo e silencioso. Ela vestia saia e uma blusa que realçava seus seios. Quando virou a esquina que levava a rua da sua casa olhou por sobre os ombros com impressão de que alguém a seguia. Quando voltou o olhar para frente sentiu uma forte pancada no rosto e caiu para trás. Suas costas se chocaram com a calçada, quando tentou abrir o olho para identificar o que havia acontecido, foi novamente alvo de uma batida, dessa vez, no meio do nariz. Voltou à calçada, não desmaiou completamente, sentiu que alguém a puxava, arrastando-a para algum lugar. Mais uma vez seu corpo foi largado ao chão. Suas pernas foram abertas a força, como também a força sua calcinha foi rasgada, e com a dor causada pelo tecido cortando a pele, gritou. Outro soco acertou-lhe a boca e com o sangue escorrendo por entre os lábios percebeu que deveria se calar. Sua blusa foi rasgada em seguida e seus seios foram agredidos por uma boca bruta e molhada. Ele estava sobre ela e subitamente dentro dela. Ela gemeu forte mas não apanhou por isso. As lágrimas escorriam por seu rosto ajudadas pelo movimento brutal e repetitivo que era executado sobre ela. Ele gemeu, lambeu a boca dela e levantou-se. Ela abriu os olhos só pode vê-lo de costas, caminhando enquanto arrumava a calça. Fechou os olhos e quando abriu novamente, estava num quarto de hospital com alguns familiares em volta.
Três semanas depois já estava trabalhando novamente e depois de oito semanas descobriu que estava grávida. A família disse para abortar. A lei também dizia isso e para espanto maior de todos, até o padre amigo dela aprovava a interrupção da gravidez. Ela recusou, dizendo ser uma vida que estava dentro dela e que, apesar da violenta concepção, esse ser tinha direito à vida e ao amor. O que não sabiam é que ela queria o filho porque sabia que jamais outro homem a desejaria.
Cumprida a gestação o menino nasceu. Para espanto de alguns, se tratava de uma criança normal. E para espanto de todos, se tornou um garoto dócil, inteligente e sensível. Talvez fruto de uma educação estritamente feminina. Nenhum homem chegava perto dele. Aos catorze anos descobriu o que era o seu pai, uma vez que se referiam a ele como "monstro", e como veio ao mundo. Odiou os homens pelo que eles eram e também se odiou por fazer parte do grupo. A mãe, como previra, nunca mais se relacionou com um homem, seja normal e violentamente, e ninguém sabe se por opção dela ou dos outros. Ele, o menino, já estava na faculdade, cursava psicologia.
Uma noite quando voltava da faculdade, o rapaz caminhava devagar em direção a casa da sua mãe. Uma chuva fina como orvalho grassava no ar noturno. Mochila nas costas, camisa dentro da calça e tênis branco. Podia ir de táxi ou ligar para mãe vir buscá-lo, preferiu andar. Parou quando alguém o puxou pela mochila. Quando virou encontrou uma faca apontando em sua direção. Ofereceu o dinheiro que tinha mas não era o que o dono da faca desejava. Talvez apenas uma coincidência, ou um "dejà vu" cotidiano, ou a Providência da vida, o que seja, o pior sempre pode acontecer novamente. Caminhou até uma praça quase deserta. Tentou resistir mas quando sentiu a persuasão do sujeito afetando em cheio o estómago entendeu que era melhor abaixar as calças. Quando foi invadido por trás, gritou e foi atacado com uma cotovelada na coluna. Talvez nunca tenha se sentido tão próximo de sua mãe como naquele momento. A dor era insuportável a ponto de perder o controle muscular. Uma apunhalada profunda, o gemido e o corpo entregue ao chão. Os lábios tocavam a terra enquanto chorava compulsivamente. Ouviu os passos do monstro ao longe e aumentou o choro, que se explicaria pelo acontecido, mas não era motivado por isso. Chorava, mas porque diferente da mãe, do estupro ele nunca poderia gerar um rebento.
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