Amigo Nên Galego
Desbravador de fronteiras
Poeta de um mundo ingrato
Que não é de brincadeira,
Emigrante clandestino
Teus poemas de menino
Diz das coisas verdadeiras.
Com seu linguajar simples
Daqui se foi embora
Cantador na Europa
Um lusitano da hora;
Sozinho e sem ninguém
Trocou o seu Itanhém.
Por este mundão afora.
Quem sabe buscar o euro
Ou o dolar americano,
Acabando com sua saúde
Vivendo só de engano;
Cruzando as fronteiras
Fechando suas porteiras
Você foi se distanciando.
Fez-se um transfusor
De sangue lusitano
Trocando dias depois
Pelo sangue americano;
Em busca da rapariga
Achou também a fadiga
Neste mundão de engano.
O cantador dos bezerros,
E defensor dos vaqueiros
Deixou tudo foi pra longe
Para um país estrangeiro;
Pela busca da verdinha
Deixou a sua vidinha
E um povo hospitaleiro.
Seu berço que aqui ficou
Hoje chora sua ausência.
Eu fico aqui a rogar
Para Deus uma clemência,
Para que este cantador
Jogue fora o que encontrou
Dando fim nesta doença.
Este guerreiro abatido
Que a fronteira cruzou
Vive a chorar de saudade
Pela família que deixou;
Pelo cheiro de seu chão
Pelo calor de um irmão
Que na Europa não achou.
Lembro seu cantar simples
Quando em dia de cantoria
Aplausos e também vaias
Sua platéia oferecia.
Hoje canta a sua dor
Daquilo que conquistou
Nesta sua neoplasia.
Caboclo da pele queimada
Do sol quente do interior,
Viver em país distante
Onde não tem o calor;
Calor de povo pacato
Povo que vive no mato
Povo que vive o amor.
Nên o desbravador
Que canta a sua saudade
Em seus poemas tristes
Você canta a sua cidade;
Cidade que não deu valor
Ao seu filho sonhador
Ao seu filho de verdade.
O menino Nên Galêgo
Caboclo que já fez queijo
Muitas vezes vaiado
Pois cantar era seu desejo.
Meus aplausos você tem
Ver de volta a Itanhem
É tudo que mais almejo.