À boca-pequena se espalha
as mazelas do vizinho,
os segredos dos parentes,
em detalhes comezinhos.
Boquirrotos, boca-abertas
sempre tem gente esperta,
plenas de “boas” intenções,
mais ainda de interesses,
que boca-a-boca carregam
a vida daquele e deste...
Bocas-grandes de plantão
têm sempre de prontidão
a última nova do dia
pra despejar noite e dia
aos boca-abertas dispostos
a lhes dar ouvidos postos
e passar adiante a novela
sem antes deixar de pôr
mais um ponto ao conto em tela.
Mais fácil do que arruaça,
que briga na boca-do-lixo
se encontra esse tipo de bicho
espalhando em bocas-de-Matilde,
com arzinho de humilde,
o que “não queria dizer, mas...”
e mais ainda, à espreita,
encontra-se para colheita
quem queira saber em detalhes,
não por maldade, imagine,
o que vem depois do mas, o erro, o crime.
Essa gente tão bondosa,
tão boa de verso e prosa,
promete que tudo não sai dali,
jura boca-de-siri,
minutos antes de ir
já tem a boca coçando
pra sair boquejando
ao boca-larga da hora
que em seguida volta à carga
neste trabalho sem par
que fazem aí pela vida
tanta gente distraída,
que se mudas fossem, seria
o maior benefício, uma alegria...
Chego a pensar que a boca,
este pedaço tão especial,
feito pra beijo, carinho, bendição,
colocada em gente errada
transforma-se rapidamente
em picada de serpente,
punhalada, maldição...
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