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Contos-->Higiene -- 22/09/2000 - 02:17 (Ramon Arruda) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Enquanto ela cortava os legumes, para a sopa do jantar, o marido estava no quarto, silencioso. O relógio ameaçava os números sete e doze, com suas duas lanças afiadas. A noite estava exageradamente fria, e os ossos reclamavam, por entre as carnes, do débil agasalho que cobria a mulher. Ironicamente, ao cortar a cebola em rodelas, chorava, tendo o rosto todo maquilado de lágrimas.
O silêncio gélido, que o quarto execrava, incomodou a audição de Clarisse, mas ela não verificou a estranheza logo. Certamente o marido adormecera, pois era uma sexta-feira, e ele passara toda a semana trabalhando como um bicho. Pôs a água no fogo e misturou os ingredientes com uma colher-de-pau comprida. A mão, apoiada no quadril, subia à testa amiúde, para aliviar o suor que lhe escorria, proveniente das raízes dos cabelos.
Para Clarisse, Nicanor dormia, mas ele estava ativo, atento, alerta como um gato cercado de cães famélicos. Clarisse arrumou os copos, pratos e talheres sobre a mesa de vidro, presente de casamento dado por uma tia. Ligou a televisão, lavou as mãos na cozinha, enxugou-as em um pano roto, com um cacho de uvas pintado, e sentou à mesa. “Nicanor, o jantar está pronto”, gritou a mulher, trincando o silêncio.
Nicanor assomou à porta, lento e tranqüilo, segurando uma faca de cabo de madeira. Aproximou-se da mulher, compassadamente, acariciando-a com a lâmina. Desenhou-lhe cortes por todo o corpo, sem que Clarisse sequer reagisse com um gemido de dor. “Só um minuto, minhas mãos estão sujas”, respondeu Nicanor, insanamente, ao convite que sua resignada esposa fizera, antes de morrer. Após lavar as mãos, sentou e comeu, mirando os cortes carinhosos com que presenteara a mulher. Ninguém, até hoje, entendeu.
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