Literatura de cordel
Botando o bico onde não é chamado
Por Airam Ribeiro
20/05/05
Às vezes fico pensando
Como sofre o Zezinho
Tanto bico pra lhe furar
É mesmo um coitadinho
Eu fico pensando comigo
Será se isso é castigo
Além de ser baixinho?
A esposa tirou o raio-x
E parece que vai encostar
Tanto bico que apareceu
Em sua coluna, que azar!
Foi tanto que o Doutor
Ainda não explicou
Como ela foi achar.
Tem bico de papagaio
De jandaia do Pará
Tem bico de tucano
De beija-flor e sabiá
De pomba fogo pagô
De Martim pescador
Tem bico de todo lugar.
Tem bico de pua
E até de coleira
De canário amarelo
Tem bico de Ferreira
Tem bico de sofrer
De azulão pode crer
E da pomba verdadeira.
Tem bico de figueira
E até de pica-pau
Bico de avião
E tem bico de pardal
Bico da arara azul
Do caga sebo do sul
E do curió original.
Bico de assum preto
De anum e tico-tico
A coitada ta sofrendo
De carregar tanto bico
A coluna virou poleiro
Se bico fosse dinheiro
O Zezinho estava rico.
E por causa desses bicos
Ela ta querendo encostar
Até disse pras colegas
Que não vai mais lecionar
Passou o bico no doutor
Que o laudo já arranjou
Pra poder aposentar.
Ê Hildérico Pinheiro
Tu vais ficar na saudade
Pois o bico só aparece
Quando chega a idade
E aí como é que eu fico
Pra fazer cordel dos bicos
Se ela vai mudar de cidade?
Agora ela entrou no curso
Por que enjoou do português
Vai precisar de muito bico
Para aprender o inglês
Só em dizer I love you
Faz o bico do peru
Também do cocá pedrez.
Eu não cito o seu nome
Para poder preservar
Pode ser que tem mais bicos
Pra no cordel colocar
E por aqui eu fico
Pra não mais por o bico
Em sua vida particular.
Gê amiga véia, isso é uma brincadeira
Mas que bico de papagaio dói isso dói.
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