Este soneto nunca tinha sido publicado. Escrito há muitos anos, foi relido muitas vezes e, sempre que o reli, mudei-lhe o nome. Já o intitulei de VAGABUNDO, O OUTRO, O AUTO-RETRATO, etc. Agora fica «À minha imagem no espelho».
Já pensou que, das pessoas que tem o privilégio de conhecer você, você é a que menos se conhece? Já pensou que você nunca relamente viu os seus próprio olhos... e nunca os há-de ver... E que o espelho lhe dá uma imagem invertida? Foi um pouco a consciência deste auto-desconhecimento que inspirou o poema.
Quem és tu, vagabundo, que medonho
Te atreves perturbar meu poiso breve?
Como acontece esse silêncio leve
Em que te vejo triste, só, bisonho?
De onde te vem esse invertido sonho?
De onde essa mensagem que descreve
Tua fronte febril de fogo e neve
E o teu olhar vazio e tão tristonho?
Serás tu, vagabundo, a minha errância
Que vem de além do tempo e da distância
E passa neste espelho embaciado?
Donde vens, vagabundo, e que segredo
Encerra o teu devir? A que degredo
Te leva o teu destino condenado? |