Quanto tempo. Escrever para você não é fácil, pois certamente terei que pedir desculpas. Agora, sei o seu vital. E entendo que não era para ser meu. Porque simplesmente é seu, nunca será de ninguém.
Antes, tudo era para você e por você. Gostava.
Amava sua doçura interessada, suas mãos de veludo. Amava.
Tinha prazer na sua liberdade.
Sofri e perdi.
Ganhei. Além do que tinha, sua melhor sinceridade, a sua melhor risada,
suas melhores músicas...
Perdi. O medo de te perder, o ciúme ao te ver, o choro do seu acúmulo de ausência.
Perdi o amor e você.
Perdi o que talvez não tive, não como desejei.
Terei sempre saudades de tudo.
Das conversas pelo telefone... por horas.
Músicas trocadas, oferecidas e pedidas.
Dos beijos roubados, dos tirados.
Das discussões sem argumentos...
Dos bolos feitos especialmente para te ver.
Das festas em que nos beijamos, das que brigamos e como briguei!
Mais sei que sempre tudo fez parte do seu show!
E sabemos que quem perde acha!
Escrevi, porque além de saudades, tive vontade de ler Clarice para você.
De ler, o que queria ter escrito de mim para você entender, o que eu não soube explicar.
Clarice escreveu só para você saber o que eu não queria falar.
Desculpa.
“O que é um espelho? é o único material inventado que é natural.
Quem olha um espelho conseguindo ao mesmo tempo isenção de si mesmo, quem consegue vê-lo sem se ver, quem entende que sua profundidade é ele ser vazio, quem caminha para dentro do seu espaço transparente sem deixar nele o vestígio da própria imagem então percebeu o seu mistério.” Clarice Lispector
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