Usina de Letras
Usina de Letras
303 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62176 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50580)

Humor (20028)

Infantil (5424)

Infanto Juvenil (4756)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->O assalto -- 06/08/2003 - 16:41 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Era dezoito e trinta de uma tarde fria Porto Alegressense. E olha que quando se fala em frio portoalegrensse é de bater os queixos. Meu quarto foi invadido por um Juvenal enraivecido.
_ Caramba! Você não imagina o que aconteceu?
Meu amigo bufava. Andava de um lado para o outro, pisando em brasas, e eu na vã tentativa de tentar acalma-lo, para depois tornar ciência do ocorrido. Tudo o que fiz foi nulo.
_ Malditas biscates! Filhas da...
Eu tinha pedido para meu compadre me acompanhar naquela viagem para o Sul do país. Como nunca tinha pisado em solo gaúcho, aceitou prontamente. E lá estávamos confortavelmente na Avenida Farrapos, sob uma lareira enorme, protegidos do frio.
Eu estava indisposto para sair, por isso pedi a ele que fosse efetuar o pagamento de uma duplicata no Banco do Brasil. Relatei ao compadre que o título já estava atrasado e eu precisava daquele favor. Além de que tinha uma agência a alguns quarteirões, o que tomaria pouco tempo.
Ele saiu faceiro e voltara daquele jeito. O que teria acontecido?
Larguei o chimarrão sobre a mesa e berrei a todos pulmões:
_ Pare! Me fale o que houve, por misericórdia...
Paralisou diante de mim e gritou mais alto.
_ Senta que eu te conto.
E começou:
_ Fui ao Banco do Brasil, conforme me ensinou. Paguei a conta, até aí tudo bem. Quando eu ia saindo a chuva apertou pra caramba, piorando com o vento. Abri o guarda-chuva e encarei, não tava a fim de ficar naquele gelo todo; a lareira aqui do hotel me deu uma saudade. Ao chegar na rua ouvi um grito “Rogério! É você?” Parei. “Que bom que te encontramos, tchê!” Eram duas garotas que se colocaram sob a proteção da chuva, uma em cada lado, me abraçando. A mais morena continuou. “Que sorte te encontrar por estas bandas, ainda mais numa barbaridade dessas”. O negócio era comigo mesmo. Eu estava entre dois monumentos de mulher, que me confundiram com um sortudo chamado Rogério. A loira, a minha esquerda, pediu-me para atravessarmos depressa a rua. “Vamos para minha casa, lá a gente se esquenta.” Fiquei todo pachola. Nem quis esclarecer o mentido. Naquelas alturas eu não teria problema algum em me aquecer numa lareira como aquelas; o Rogério que me desculpasse. No outro lado da Avenida andamos alguns quarteirões aligeirados, comigo crente que me daria bem. De repente pararam. A morena falou. “Ah!, o senhor me desculpe. Pensamos que fosse o Rogério, mas olhando bem vejo que nos enganamos. Foi a chuva.” E sem mais entraram numa ruela, que ficava a minha esquerda. Fiquei embasbacado. A um minuto eu estava muito bem acompanhado por duas chinocas lindas e num instante fui largado. Gritei atrás das moças, mas elas não se voltaram. Desolado resolvi tomar um táxi ainda pensando em minha má sorte. Revivi cada momento desde a saída do banco até o momento em que elas me deixaram: eu devia ser parecido mesmo com o tal Rogério para elas demoraram tanto tempo para perceberem o engano. Antes de entrar no carro passei a mão no bolso para pegar minha carteira, assim facilitaria a vida do taxista, e... tinha sumido. Só então me flagrei. As duas piranhas tinham me roubado. Saí em disparada, entrei pela ruela aos berros de polícia. Encontrei um gauchão alto e pedi informações de onde eu encontraria um guarda. “Vá adiante que da de cara com os brigadianos.” Me fui à toda. Encontrei dois policiais à cavalo. Narrei rapidamente o ocorrido. “Mas bá! Caiste no conto do vigário. Vamos dar uma galopada pelas berradas pra ver se encontramo as arcaídes. Mas como eram as chinas?” Dei a descrição das ladras, lembrando os guardas que elas usavam uma manta vermelha. “Poncho”. Corrigiu-me um deles. Os dois saíram em busca das moças. Eu fiquei andando para os lados vendo se não as via. Pro meu azar a maioria usavam ponchos vermelhos, o que dificultou muito. Os guardas voltaram sem nada. “Olha, o colorado ganhou o grenal e a torcida toda saiu de poncho colorado. Fica impossível encontra-las assim.” Agradeci aos policiais e pedi que me trouxessem ao hotel, pois estava duro.
Caí na gargalhada do jeito patético de Juvenal. A estória era hilária demais.
_ Tá rindo, né? Só porque não foi contigo, cabra safado!
_ Mas é engraçado demais. Pensaste numa farra danada e veja o que deu.
_ O pior é que meu dinheiro se foi, velho.
_ Esta parte é ruim, afinal é mais um prejuízo que terei de arcar.
_ Exatamente, de ora em diante vai te que me bancá.
_ Não esquenta, compadre. Há males que vem pra bem...
_ E quem bem há em ser assaltando? Me diga?
_ Pior seria se as duas te levassem para casa e você não desse conta do recado. Dizem que as gaúchas são fogo.
_ Broxar eu! Ora compadre...
_ E como vamos explicar para dona Cleonice? Eu vou rir mais ainda, aposto que ela vai tirara a maior onda.
_ Você não vai fazer uma leseira dessas, vai? Pela madrugada, me poupe.
_ Posso adulterar a minha versão pra não prejudicar seu casamento. Vou dizer que tentaste ajudar duas velhinhas e as duas te roubaram. Fica mais ameno, não acha?
Na verdade eu estava só me divertindo com a falta de sorte de meu amigo, não era minha intenção denunciá-lo.
_ Eu acho aquelas duas, pode crer!
E foi para o banho.
Eram onze horas, nos preparávamos para dormir quando o telefone tocou. Uma voz grave de homem disse estar com a carteira de meu compadre e caso houvesse interesse em recuperá-la que fossemos ao seu encontro, levando uma recompensa, é claro.
Juvenal deu um salto. Era com certeza um comparsa das ladras. Iria dar o troco. Mesmo com todas minhas argumentações contrarias à sua saída, não consegui convencê-lo. Foi até seu bidê e pegou uma pistola calibre 22, carregou-a e sentenciou:
_ Ou vai comigo, ou fica!
_ Deixa isso pra lá. Amanhã a gente resolve. O cara vai ligar de novo e com o dia claro fica melhor.
_ Amanhã elas vão embora. Eu vou agora pegar aquelas safadas.
Sem mais, saiu para a saída do hotel. Resolvi segui-lo.
Juvenal era um pilha de nervos. O motorista estranhou uma corrida para o Beira Rio numa hora daquelas.
_ Pode ser perigoso. Vejo que os patrícios não são daqui...Sem querer ser metido, mas que mal lhes pergunte: qual o motivo para uma saída assim, nestas horas?
_ Vamos buscar alguns documentos que meu amigo aqui perdeu à tarde – respondi.
_ Bueno, mas as estas horas?
_ Pois é. Eu bem que tentei convencê-lo de que amanhã seria melhor, no claro. Mas a mula não ouve.
_ Foste mui sensato. É uma loucura andar por aquelas bandas numa hora dessas... uma loucura.
Juvenal estava impossível. Não escutou nenhum conselho nosso, confiava demais em sua pistola.
Levamos uma hora para chegar diante do Estádio Colorado. A iluminação estava boa, mas nenhum movimento na rua, nada, nem ao menos um cachorro. Tudo quieto e o frio de rachar. Eu, totalmente desabituado com baixas temperaturas, maldizia o momento de minha saída do hotel. O táxi nos deixou. Ficamos só diante do Gigante. Por algum tempo nem uma viva alma apareceu, só o frio, muito frio mesmo.
Começamos andar em torno do Estádio em busca do suposto do suposto devolutor da carteira. Andamos, andamos e nada. A rua completamente nua, geando, aumentando ainda mais o frio. Em certo momento tive a impressão de que estávamos sendo vigiados. Parei, fiz menção de juntar algo no chão, o que me deu condição de observar os arredores. Eu estava certo, dois vultos vinham em nossa direção, apertando o passo.
_ Tem gente atrás de nós – alertei meu companheiro.
_ Sério?
_ Mas continue andando.
Não demorou um minuto e mais duas sombras surgiram em nossa frente. Aproximaram-se devagar; eram dois homens, um alto e um baixinho, cara de poucos amigos. O baixinho nos dirigiu a palavra:
_Quem é o Juvenal?
Naquele instante estava mais frio em meu estômago do que os cinco graus negativos temporal. O queixo fugia do controle, quase quebrando os dentes. Juvenal estava na mesma, mesclando frio e medo.
_ Quem é o Juvenal - tornou a perguntar o baixinho.
_ Sou eu – respondeu o compadre.
_ Aqui está sua carteira. Só tem documento, do dinheiro nem sinal – esclareceu o baixinho.

As duas sombras traseiras tomaram forma, colocando-se embaixo de um posto de energia, expondo dois belos corpos femininos.
Juvenal arregalou os olhos:
_ São elas, as ladras!
Mas não emitiu mais nem mais uma sílaba. Um trinta e oito surgiu das mãos do homem alto. O baixinho prosseguiu.
_ Vamos deixar de fricotes. Passe sua carteira – apontando pra mim.
Não hesitei, dei minha carteira imediatamente.
_ Só isso! Que miséria, oitenta reais só? De qualquer forma foi um dia bem lucrativo - deu uma volta em torno de Juvenal – Eu ainda não acredito que exista gente tão bocó. Ser roubado duas vezes no mesmo dia é mancada pra mais de metro. Ainda mais ser passado pra trás por dois frescos – apontando para as moças.
_ Frescos? – perguntou Juvenal
_ Vai me dizer que não notastes as bonecas...
Eu não agüentei. Mesmo sabendo do risco comecei a rir. Ri tanto que tive de sentar no meio fio da calçada. Eu já não sentia medo, só uma vontade incontrolável de rir.
Os larápios levaram todo nosso dinheiro e a pistola de Juvenal, encontrada em revista feita pelas “mulheres”.
A quadrilha partiu sem nos agredir. Fomos embora duas horas mais tarde, quando recobrei as forças. Juvenal não ria nem chorava. Ficou firme de teimoso.
Somente no quarto percebi que meus pés estavam congelados. Eu ri durante toda a volta. O motorista deve ter me tomado por doído. Bebemos vinho pra aquecer e o Juvenal só falou depois de uma garrafa inteira. Começou a rir também, até que o sono nos atropelou.
Durante o sono eu ri muito e acordei sorrindo.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui