Por que tanto nos maltrata,
Com mui forte dor, assim,
Esta cruel e amara cascata
De lágrimas, vindas, enfim,
Da saudade?
Por que será que acontece
De tanto sofrer, algum
Coração que se enternece,
Sem ter temor nenhum
Da paixão?
O que vem a ser, quem explica,
A doce mistura, que, amiúde,
Instala-se em nós, e então se fica
Entre feliz e triste, em atitude
De amor?
Por que parece, às vezes, impossível,
A qualquer de nós, pobres viventes,
O gesto nobre, indescritível,
E tão penoso, entrementes,
Do perdão?
O que faz com que sejam tão fortes,
Resistentes, quase indestrutíveis,
Por mais sofrimento que suportes,
Os laços firmes, imperecíveis,
Da amizade?
O que representam, afinal, na vida,
Os momentos mágicos, incomuns,
Que encantam a alma mais sofrida,
Embalada, muitas vezes, por alguns
Sonhos?
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