Esta carta é uma memória, uma lembrança daquela noite memorável em que arrebataste uma multidão atônita com teus passos e gingas tropicais incríveis. Sim, era noite! Lembras? Teu corpo embalado e beijado pela luz baça dos candeeiros encarnou a mensagem misteriosa da própria noite e tornou-te no chão da praça onde te exibias uma figura feérica de profunda sedução.
Ofereço-te a crônica em verso, feita bastantes anos atrás!
________________
MULHER-BAILARINA
Jan Muá
Na praça onde acrobata
Ostentas a beleza de teu corpo
E soltas nos gingados
O colorido das tranças e missangas
Os fogos estouram crepitosos
No brilho quente dos teus olhos
No grande terreiro
Sob folhas de palma refinadas
A luz desenha a coreografia de tuas ancas
E os coquinhos maduros de suco e de sabor
Sinalam o movimento dos tamborins
Que assanham a dança que estrelizas
Com grande emoção
A multidão acompanha e aplaude
E pula contigo no balanço quente da noite
No afago romântico do teu corpo
E elege-te estrela mensageira de seus sonhos
Na volúpia dos olhos contagiados
Confundida na sarabanda dos teus passos
Aspira a um secreto desejo
Na espiral da dança
Muito além da missanga colorida.