Cá estive um outro dia,
P ra lhe ditar a poesia
Deste simples treinamento.
Foram só versos dispersos,
Cujos temas mais perversos
Distraíram um momento.
Volto com mais energia
A este posto da poesia,
Num arremesso de gosto,
Para ditar a esta gente
Algo bem mais permanente
Que não lhe cause desgosto.
São versos de fantasia,
São frutos da engenharia
Que se julga diferente,
Como alguém que só dissesse,
Que, ao colher a sua messe,
Só lhe bastava a semente.
Volto já regenerado,
Embora tenha o cuidado
De não assustar ninguém.
É que os vivos são medrosos
Quando se trata dos gozos
Que partem do “mais-além”.
Vou estender-me um pouquinho:
Recebam-me com carinho,
Não tenham medo de mim,
Se me sentir infeliz,
Irá ser só porque quis
No sofrimento pôr fim.
É que estive atribulado,
Muitíssimo atrapalhado
Co as atitudes da vida.
Agora, repouso triste,
Mas não tenho dedo em riste:
Descanso da rude lida.
Mas vou “dando de pinote”:
Não quero dançar um “xote”
Que o meu baile terminou.
Quero só o som da valsa,
Na travessia da balsa,
Nos conselhos que hoje dou.
Solfejarei bem baixinho,
Acompanhando o carinho
Que pedi no verso acima.
É que o amor co o amor se paga
Mesmo quando o olhar se alaga,
Ao receber tanta estima.
Exalto, pois, o presente
Que recebo do escrevente,
No momento em que recito.
É pura a felicidade,
Fruto da benignidade:
Nesta hora, não hesito.
Recebo a bênção de Deus,
Que salvou os filisteus
Das mãos da perversidade.
Somos todos filhos seus,
Amonitas, saduceus:
Eis o manto da bondade.
Freme agora aqui comigo
Um ser outrora inimigo,
Cativado para o bem.
Naqueles dias de antanho,
O seu crime foi tamanho
Quanto o meu o foi também.
Hoje nós seguimos juntos,
Aspirando ver defuntos
Os ódios de antigamente.
Com os corações unidos,
Vemos os tempos perdidos
Dissiparem-se na mente.
Eis aí um bom conselho
Retirado do evangelho
Trazido a nós por Jesus.
Quem quiser seguir crescendo,
Vai dizer: —“ Eu me arrependo
De tê-lo posto na cruz!”
Estranhou nosso escrevente
Tanta rudeza na gente,
Na expressão do verso acima.
Entretanto, é preciso,
Para entrar no paraíso,
Desfazer aquela rima.
Vou seguir mais um pouquinho,
Com a rosa, sem espinho,
No caule desta poesia.
É que um treino sem sabor,
Sem prazer, com muita dor,
Não cabe na melodia.
Eu agradeço ao Senhor
Todas as bênçãos de amor
Que se espargiram por nós.
Bem contritos, oraremos,
Sabendo que venceremos:
As almas não viram pós.
Novamente, este irmãozinho
Estremece o seu carinho,
Pois deu nó na nossa rima.
Gosta ele dum gracejo,
Pois nos sons do realejo
Sente mais a nossa estima.
Estes versos de mendigo
São bem os que vão comigo:
Vaso sem terra e sem flores.
Nada há, pois, que estranhar:
Navegante vou ao mar,
Para esquecer minhas dores.
Se me derem muita trela,
Se for grande a minha vela,
Não sairei mais daqui,
Pois me sinto acomodado,
Com meu sofrer apagado
Dos males que cometi.
Eis aí um bom serviço,
Verdadeiro compromisso
Deste socorrismo ativo.
Atender aos sofredores,
Para acalmar-lhes as dores,
É cumprir o objetivo.
Fiquemos, pois, em repouso
(Ir além disto eu não ouso).;
É hora de terminar.
Sinto os amigos cansados,
Que estes versos são danados:
Flores a despetalar.
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