Erguer os olhos ao céu
Pode demonstrar piedade,
Mas pode ser que haja um véu,
Por falta de caridade.
Quando sai o povo à luta
Não tem medo do futuro:
É como um simples recruta
Que atira a esmo, no escuro.
Entretanto, a contingência
Dos eventos casuais
Vai impondo a obediência
Aos itens contratuais.
Quem olhar p ro céu agora,
Infringindo os mandamentos,
Vai perceber que vigora
A lei que causa tormentos.
Serenidade é preciso,
Como razão do existir:
Quem pensa no paraíso
Arquiteta seu porvir.
Os bons sempre são justos
E os mesquinhos são perversos.
Não avalie os seus custos:
Ponha verdade nos versos.
Treinamento e desempenho
São os roteiros do dia:
Esta é a razão a que venho,
Para compor a poesia.
Se julgar bom este amigo
Continuar com o tema,
Vai já saber que eu não ligo
P ras virtudes do poema.
Cumprir com uma missão
Dá plena felicidade:
Satisfaz o coração
Realizar a caridade.
Entretanto, temos pena
Do tempo que médium perde:
Seria bem mais amena
A fruta não sendo verde.
Para manter a esperança
De receber belos versos,
Nosso médium não se cansa
De repetir os perversos.
Agora, bem mais afeito
Aos trejeitos do etéreo,
Consegue abrir o seu peito,
P ra solução do mistério.
Traz a mente muito calma,
Muita fé no coração:
Pretende levar a palma,
Na luta da redenção.
Passamos nossas idéias,
Com carinho e muito afeto:
No bulício das colméias,
A rainha é só inseto.
Vamos encerrar o treino,
Que hoje foi muito curto.
Não posso dizer que eu reino
Ou que estas rimas não furto.
Teme o nosso Wladimir
Que o dia esteja perdido.
— “Será isto evoluir?
Pode ser, mas eu duvido...”
Traduzindo o pensamento,
Ficam cruas estas rimas:
Não promovem fingimentos,
Tampouco são obras-primas.
Trabalhamos no concreto
Das intenções declaradas:
É esse o caminho reto
Das almas mais festejadas.
Como se pode sentir,
No vai-da-valsa do verso,
O querido Wladimir
Vai dominando o universo.
Diz-nos ele que pretende
Continuar insistindo:
Um ou outro verso rende
Pensamento muito lindo.
Joga no mar sua rede,
P ra recolher um peixinho.
Não vai ao pote com sede:
Tudo há de ser mansinho.
Por isso, as quadras se estendem
Por quilômetros de folhas:
São belas uvas que pendem,
Dando ocasião às escolhas.
Se estão verdes alguns cachos,
Na opinião dos espertos,
Depositemos em tachos,
Que os rumos estão bem certos.
Terminando o treinamento,
Que se mostrou proveitoso,
Aceno co o lenço ao vento,
Num gesto mui desgostoso.
Vou ao Pai agradecer,
Por me dar este dever,
Junto aos amigos da Terra.
Não me saí a contento,
Mas é com contentamento
Que esta poesia se encerra.
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