Sol escaldante de verão.
Vias de concreto
De concepção abstrata,
Poucas com personalidade própria.
Frias, indiferentes.
Asfalto quente e pegajoso
Queima os passos apressados
Que teimam em chegar
A lugar nenhum.
Fundem-se na passagem
Dos pedestres na rua
No concreto da paisagem
Nua e crua
Delineada por traços
De areia, cimento e pedra.
Traços geométricos,
Cálculos matemáticos
Que dão sustentação
Estrutural e equlíbrio físico,
Mas não arquitetônico.
Carros, ônibus e vans.
Buzinas, roncos e fumaça
Dos motores ligados
Que não ligam para nós,
Pobres mortais humanos,
Tanto quanto os agentes
De todo esse caos urbano.
Não há sombra, não há espaço.
Está tudo ocupado
Pelos camelôs desocupados,
Invasores de nossas vias
Cada vez mais longas
E de nossos tempos
Cada vez mais curtos.
Preciso de um refúgio
Que me proteja de alguma coisa.
Um estabelecimento bancário?
Este é o maior refúgio
Para os banqueiros ávidos
Por nossas contas,
Por nossas dívidas.
Mas o calor é muito forte.
Como abrigo para o corpo
Cansado e suado ainda serve
Para baixar o metabolismo.
Mas é só até o próximo assalto.
Passo por algumas igrejas
Todas elas com mendigos
De plantão permanente.
Resolvo entrar.
Este sim, um verdadeiro refúgio
Para o corpo e para o espírito.
Oh Maria concebida sem pecado,
Protetora dos humildes
E desempregados,
Protege os patrões
Para que haja mais emprego.
Reduz também o calor do Rio
E as chuvas do Nordeste
(Deveria ser a seca).
Ponhe ordem nessa desordem
Que não é só urbana,
É universal, é humana.
Mas tenho que continuar!
Protege os meus passos
Para que siga com segurança
Sem assaltos e sobressaltos.
Embora pecorra mais,
Passo por este parque
De árvores frondosas
Pleno de sombra e de frescor,
Mas também de mendigos,
De pivetes e capivaras.
Não posso parar,
Tenho que continuar
Minha jornada até o fim
E que, apesar de tudo,
Apesar todo o caminho de volta,
Pelo menos há voltas e recomeços,
Mesmo que seja nesse caos urbano,
Desumano
Impiedoso
Ruidoso
Agitado
Apressado
Quente
Indiferente
Humano...
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