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Artigos-->MODERNIDADE -- 06/06/2002 - 00:44 (Roni Mocchegiani Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Michael Wertheimer (1970) põe em relevo um importante tema tratado por Boring, em relação à história, que é a visão dos fatos através do Zeitgeist em confronto com o Grande Homem. "Qual é exatamente o papel do espírito do tempo (Zeitgeist), na determinação do que acontece, em contraposição ao papel de alguma pessoa incomum, suficientemente forte para enfrentar o Zeitgeist e mudar o curso dos acontecimentos?". O Zeitgeist é o solo intelectual de onde brotam as idéias que alimentam uma época e só os "grandes homens" conseguem vencer o fluxo das águas e tomar rumos diferentes.

Em que ponto nos detém o "espírito de nosso tempo"? Poderíamos afirmar que o mundo moderno encoraja o aparecimento dos "grandes homens" capazes de trilhar caminhos novos, ou que cada vez mais nos limita dentro das paredes do Zeitgeist? A globalização nos trouxe benefícios ou nos massificou ainda mais? Nos uniu ou nos uniformizou?

O mundo vive hoje um intenso movimento de colocar em cheque tudo o que se estabeleceu através do tempo, sedimentado pela tradição. Mas estaremos mesmo tomando novos rumos ou trocando rótulos sem trocar os conteúdos? Porque a tradição é o mapa desenhado por quem deseja que nada saia diferente do que foi previsto e planejado. É como se ela nos dissesse constantemente: “Não seja tolo, desde que o mundo é mundo as coisas são assim.” E nós acreditamos nela. Não nos damos conta de que na verdade “o mundo não é, o mundo está sendo” como disse Paulo Freire. Ou seja, não nos deixam espaço para pensar que não somos expectadores do mundo e nem leitores da história. Somos construtores do mundo e autores da história. Nos transformam em consumidores de uma cultura de opressão, separatista e descartável enquanto que, em realidade, somos produtores de cultura. Mas nos aceitamos como expectadores da cultura dos que “nos guiam” e olhamos o mundo como quem assiste a uma novela.

A globalização que é hoje entronizada quase que como um laço sagrado que uniu os homens, que exterminou as distâncias e irmanou os povos é um produto falso que a mídia nos vende e que compramos caro. É inegável que o que ela proporcionou, utilizando-se da tecnologia, facilita imensamente nossas vidas sem até que o percebamos. Mas qual a porcentagem da população mundial que tem acesso a tudo isso? A imensa maioria dela, se fosse compartilhar com o resto do mundo aquilo que tem para oferecer à humanidade globalizada, poderia no máximo trocar informações sobre suas experiências de fome e de miséria total. Por outro lado, para os que podem ser considerados cidadãos do mundo globalizado, essa unificação parece ser mais uma forma de uniformização, de massificação e parece querer puxar tudo e todos para andarem sobre a linha da média, ou seja, tornar o mundo medíocre.

A globalização é mais a velha tradição de roupas novas do que propriamente modernidade.

Parece que nunca foi tão difícil romper os muros do Zeitgeist (o espírito de tempo) quanto hoje.

Dentro disso, se torna difícil a criatividade se expressar, a arte verdadeira medrar, em resumo, os "grandes homens" aparecerem.

Um detalhe curioso é que – como dizia o saudoso geógrafo Prof. Milton Santos - nenhuma outra classe social demonstra tão claramente esta aridez, pelo apego à tradição (seja ela de roupas velhas ou novas), quanto a classe dos "emergentes". Dali nada se pode esperar que não seja trilhar o velho caminho já percorrido desde sempre.

E foi pensando nisso, que comecei a me preocupar ainda mais com os passos do nosso país.

O mundo globalizado, onde caminham todos juntos, segurando o andor, levando cuidadosamente o São Capital, vem cantando em alta voz que o Brasil é um dos países emergentes, um dos candidatos a participar do grupo que tem o privilégio de carregar o andor. Mas o pior de tudo é que no meio da procissão vem o Brasil com sua vela na mão, iluminando o santo, e cantando o mesmo refrão.

O país, portanto, passa por um momento delicado, no qual periga perder aquilo que há de seu, esquecer como se cria, como se improvisa, como se buscam novas alternativas e novos rumos, hipnotizado pelo coro da procissão.

O que me alenta é que nosso país, abaixo do verniz que tentam mostrar lá fora, tem um povo extraordinário que aos poucos tomará novo caminho. O seu próprio caminho.

Mesmo porque o santo é de barro.

Mas a alma da gente não.





"E quando lavarem a mágoa,

e quando lavarem a alma,

e quando lavarem a água,

lavem os olhos por mim".

(I Lins/V. Martins)





REFERÊNCIAS

Wertheimer, M., Pequena História de Psicologia, Nacional, 1991, Pag. 6





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