Disseram que o palhaço era triste
Como o rosto de toda mulher,
Cansada da faina, de limpar panela,
De cuidar de filho, de ganhar o pão
Num desses subempregos
Que não pagam as três conduções.
Quisera ser como a mulher,
Explorada, mas que toda noite
Abre um sorriso servindo o jantar
E nos braços de seu homem diz que a vida é bela.
Disseram que o palhaço era triste
Como toda criança que vai trabalhar
Nos sóis de um farol da vida,
Na fábrica de tênis, na colheita da castanha,
Na enxada ou no fogão.
Quisera ser como a criança,
Sem escola, mas que toda noite
Abraça sua única boneca
E quase dormindo diz que a vida é bela.
Disseram que o palhaço era triste
Como a cara suja do pedinte,
Sem esperança nos vidros do carro,
Olhar infinito de quem já não nasce
E um bebê ao colo que chora por leite.
Quisera ser como o pedinte,
Em desespero, mas que toda noite
Se encolhe num fogo com seus companheiros
E para seu filho diz que a vida é bela.
Disseram que o palhaço era triste
Como o poeta sonhador.
Mas o poeta vê tanta miséria
E já não acha que a vida é bela.
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