Em ondas, o pensamento
Se espalha pelo universo.
Pare apenas um momento,
Para ouvir o nosso verso.
Carente de boa vida,
Fomos muito regalado,
Mas não foi bem recebida
Nossa missão de soldado.
Só quisemos professar
Na área da humanidade.
Essa de disciplinar
Foi ficando “na saudade”.
As letras nos atraíram,
Tal que fossem bem supremo.
As fardas de nós saíram,
Como se o mal fosse extremo.
Mas a Pátria deu um grito,
Ferida pelo inimigo.
Eu precisei ser conscrito:
Ia enfrentar o perigo.
Fugi de tal compromisso,
Desertei, mudei de nome.
Não quis prestar o serviço,
No bulício que consome.
Os tempos foram passando,
A paz se fez para todos
E a consciência me acusando
De me chafurdar nos lodos.
Deixei de ser mestre-escola
E fui batalhar na imprensa.
Desejei dar uma esmola,
Pois minha culpa era imensa.
Aí usei pseudônimos
Que me escondiam da lei
E, por escritos anônimos,
Ofendendo fui ao rei.
Tantas fiz que consegui
Chamar atenção p ra mim,
Mas o medo que senti
Falava claro do fim.
Desertei mais uma vez,
Fui vegetar no interior.
Sem dinheiro, fui freguês,
Com bom saldo devedor.
Não queria compreender
Que a luta exige denodo:
Quando se cumpre o dever,
Corpo e alma são um todo.
Uma jovem me atraiu
P ras lides do matrimônio,
Mas o seu pai proibiu
Que se realizasse o sonho.
Ambos, então, resolvemos
Sumir daquela cidade,
Mas a intenção que tivemos
Continha alguma maldade.
Quem sabe a nossa desgraça,
Já que era muita a miséria
Nos perdoasse a chalaça,
Tornando a vida mais séria.
Mas minha cara não quis
Desertar dos bens terrenos,
Preferindo ser feliz
Bem longe dos meus acenos.
Vi-me de novo sozinho
Contrariado, sofredor,
Já trintão e sem carinho,
Sem paixão e sem amor.
Voltei à sala de aula,
A ensinar o bê-á-bá.;
Me via dentro da jaula:
Estava sem forças já.
Os alunos eram peste
De dizimar professores.
Meu ânimo, então, investe
A objurgar minhas dores.
Foi aí que percebi
Quanto deixara na estrada:
No caminho em que segui,
Tudo quis, fiquei sem nada.
Tomei gosto da bebida
P ra esquecer meus pensamentos.
Acusei a minha vida
Como causa dos tormentos.
A responsabilidade
Pelas minhas decisões
Atribuí à vaidade:
Precisava de razões.
Me afogava nos prazeres,
Ampliando a minha folga.
Já não cumpria os deveres:
Ao mal minh’alma se amolga.
Para encurtar esta história,
Devo dizer que morri,
Recebido pela escória
Que reunir consegui.
Arremessado no Umbral,
Queria fugir de lá,
Mas desertar desse mal
Não é coisa para já.
Foi preciso decifrar
Cada ação de minha vida.
Era p ra disciplinar?
Tal missão foi esquecida.
Voltei hoje p ra escrever:
São letras que conservei
Para a vida bendizer,
Para mostrar onde errei.
Deixei a missão p ra trás,
Não fiz nada que devia,
Mas, ao alcançar a paz,
Tive mais sabedoria.
Disciplinei pela dor,
Em tempos de desespero,
Naquele mundo inferior,
Onde tudo é exagero.
Arrependi-me, tremendo,
De ter feito tanto mal:
Era infeliz, era horrendo,
No perpassar pelo Umbral.
Se me tivesse detido
Antes de fugir da guerra,
Por certo teria tido
O bem que o dever encerra.
Defender a sociedade
É questão de honra, só.
Não praticar caridade,
Faz a honra virar pó.
Em suma, p ra não cansar,
Que já vai longa a poesia:
Antes de fazer, pensar.;
Ao pensar, mais harmonia.
As guerras de que falei
São da alma os atributos:
Quando eu ataquei o rei,
Demonstrei ares astutos.
Toda atitude na vida
Resulta dum pensamento,
Mas também se dá guarida
Ao valor do sentimento.
Para se agir de verdade,
Segundo a norma perfeita,
Vamos medir a vontade
Pelo bem que nos espreita.
Se estivermos com Jesus,
Venceremos nossa luta,
Conseguiremos mais luz,
Nossa prece Deus escuta.
Sendo assim, o pensamento
Que se contém nestes versos
Vem trazer o ensinamento
De que os males são perversos.
Atendemos ao pedido
Do nosso mestre escrevente,
Que se sentiu bem perdido,
Com o tema diferente.
Mas com os versos da rima
Da quadrinha mais acima
Serenou o coração.
Percebeu que temos brio,
Que nosso porte sombrio
Só deu tom a esta canção.
Recomendamos que deixe
Reunidos, como em feixe,
Os versos desta poesia.
Um dia, vamos voltar
Para poder declamar
Canções de mais melodia.
Mas, se algum ensinamento
Valer p ra este momento,
Não se acanhe, mas publique,
Que a mensagem que se dá,
Sendo boa, serve já:
Sempre haverá quem aplique.
A Deus nos recomendamos,
Quando tivermos nos ramos
Frutos bons de se comer.
Se estiverem sazonados,
Irão ser apreciados:
É publicá-los p ra ver.
Se estamos continuando,
É porque o médium vai dando
Boa corda para nós,
Mas já lhe bate o cansaço,
Bem pesado sente o braço,
Ouve mal a nossa voz.
E leva num desafio
(Também ele tem seu brio)
O ditado para frente.
Diz-nos que tudo, na vida,
Requer força desabrida
E coragem de valente.
Quer nos dar uma lição,
Por causa da profissão
De professor do idioma.
Mas nem tudo o que ele faz
Promove somente a paz:
Se nos dá, também nos toma.
Vamos ficar por aqui,
O nosso povo sorri:
Já é hora de sair.
Também o nosso escrevente
Está ficando descrente
De versejar conseguir.
Nós vamos agradecer,
Cumprindo o nosso dever,
Toda a atenção que nos deram,
Pedindo a Nosso Senhor
Que cubra com seu amor
Todos que aqui estiveram.;
Estendendo a nossa prece
A quem desse amor carece,
Ao nosso leitor de agora,
Pois, nesta horinha de adeus,
Sempre é bom lembrar de Deus,
Que nossa fé revigora.
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