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Contos-->PORQUE O CÉU É AZUL? -- 23/07/2003 - 00:04 (Edson Campolina) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PORQUE O CÉU É AZUL?



Havia chegado em Acesita, bairro da cidade de Timóteo, que leva este nome tão somente por causa da usina de aço ali instalada. Estava um dia muito quente e abafado, como todos no verão da região do Vale do Aço em Minas. Assim como nas minhas várias outras andanças pelo interior do estado, a trabalho, a receptividade e amizade dos colegas eram das mais alegres. Percepção que pude sentir logo no primeiro momento quando me apresentaram à equipe, e logo o Jajá me indagou.


_ Edson, você bebe? Tentando fazer uma cara séria.
_ Sim, um pouco. Porque?
_ Então vou lhe mostrar os bares daqui, e se você conseguir me acompanhar eu convido Claudinho pra uma “via sacra” nós três.


Sem qualquer dificuldade aceitei prontamente, principalmente depois das chacotas e risos marotos dos colegas que presenciaram a conversa, e partir para ver as instalações da sala anexa na qual passaria meus próximos quatro meses em companhia do Cândido. Este, já era velho conhecido de Belo Horizonte, pois moramos no mesmo prédio em São João Batista e por vezes tomamos o mesmo ônibus para o trabalho, mas nunca nos aprofundamos em nossas conversas, pois nós dois éramos os típicos rapazes cabreiros vindos do interior de Minas. Mais tarde, coincidentemente, acompanhando minha irmã que foi morar em Lagoa Santa, conheci o irmão do Cândido que ali morava e trabalhava. Só depois deste distanciamento que viria a descobrir que o Cândido cursara Filosofia, até então não conhecera ninguém enigmático o bastante.


Chegara então uma quinta-feira, que para as cidades daquela região, principalmente Coronel Fabriciano, era o dia da noitada, assim como os sábados à noite são nas demais cidades, isto porque a população flutuante de lá é elevada e cai drasticamente às sextas-feiras. Após o trabalho me encontrei com o Jajá, um atleticano doente, chefe de torcida e figura popular em Acesita, principalmente nos bares, fato que sua própria anatomia abdominal condenava. Então começamos o turismo aos petiscos e bebericos até a madrugada. E eu, como sempre nunca gostei de ficar bêbado, no vagar e nas pausas para uma Coca-Cola, suportei todos recantos visitados. No dia seguinte, ressaqueado, Jajá se incumbiu de logo instigar o Claudinho:
_ É Claudin, acho que incontrei um que vai te suportar. Se ele güentah sua companhia a noite toda ele vai te dirrubah!
Sorrindo, o Claudinho retrucou.
_ Intão vô me preparah pra levá ele na festa de Marinésia no outro fim-de-semana!



Transcorreu tranqüilamente aquela minha primeira sexta-feira, e como em todas as outras em Acesita, a cidade vai dormir cedo, curando a fanfarrice da véspera. Outra turma, menos etílica, se reuniu em uma rua de pedestre lateral ao prédio da empresa, bem em frente ao Hotel Presidente, onde me hospedara, em mesas estrategicamente postas bem no meio da rua para aproveitar o corredor de vento que soprava refrescando um pouco aquela noite, e fazendo com os galhos das amendoeiras que fechavam um arco na rua um balanço vagaroso e sonoro de folhas se roçando. Ali o objetivo principal era a prosa descontraída que passeava pelo trabalho, política, futebol, o visitante, a cidade, seus habitantes e religião. Estava presente o Cândido que justificava sua fama de beberrão adquirida nos fins-de-tarde da Savassi, em Belo Horizonte, após o trabalho.


O assunto se enveredou para a religião, e o Cândido divagou, filosofou e concluiu. Daí a abertura que esperava para lhe perguntar se era realmente, além de bancário, filósofo.


_ É, eu fui seminarista por cinco anos, estudei teologia e filosofia no seminário, começava `as cinco da manhã, era uma rotina de muito estudo. Respondeu ele já mais aberto e tranqüilo, haja vista a quantidade de garrafas vazias em cima das mesinhas de metal.


Então veio aquela pergunta que todos fariam, exceto os menos corajosos:


_ E porque você saiu?



_ Percebi que religião era algo diferente pra mim. Continuo católico, rezo com minha família, freqüento a Igreja, leio a Bíblia e acredito muito em Deus. Mas não era necessária aquela rotina, precisava e queria também viver o mundo aqui fora. Creio muito que nada neste mundo é sem motivo, isto nós aprendemos lá, tudo tem seu porque, a pobreza, a riqueza, o feio, o bonito, o gordo, o magro, o bem, o mal, o transparente, o obscuro, a noite, o dia, os sete pecados capitais, tudo é necessário para que o mundo se mantenha em equilíbrio. E Deus pensou em tudo isto. Até mesmo no verde da natureza. Você sabe porque a natureza é verde? Poderia ser amarela, vermelha, branca, até mesmo preta.


_ Não, não sei. Mas nos diga. Porque Deus fez a natureza verde?


_ Porque é a cor que menos agride nossa visão!


Aquela resposta deixou sem continuidade a minha conversa. Nestas horas assimilo o impacto da resposta, penso por alguns segundos e prefiro filosofar a respeito depois, sozinho.

Passados então alguns anos, cidades, amores, decepções, ilusões e sucessos, numa conversa há poucos dias com minha esposa soltei esta. E ela então retrucou:


_ Mas o azul agride menos, é mais bonito. Olhe para o Céu?



22/07/2003
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