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Contos-->Um amor em cada estação -- 16/07/2003 - 14:55 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Pirapora, assim é chamado João Vergueiro, filho único de Dona Guilermina Esperança. Sujeito pacato, trabalhador (ao seu modo), bom de prosa e, sem exageros, de copo; muito alegre e ótimo vizinho. O conheci por demais, nos anos em que morei em Abadiânia. Dizia-se na surdina que fora casado, porém sua esposa o tinha abandonado, juntamente com uma filha, com cerca de dez anos. Um história sem maiores detalhes, ignorada pelos moradores da pequena cidade goiana.
Certo dia Pirapora sumiu. Sem nada dizer, fez as malas, pagou as contas, vendeu os poucos pertences e partiu. Foi visto embarcando com destino ignorado.
Ontem encontrei Pirapora na Estação Ana Rosa, metido num carrinho de cachorro-quente. Estava torrada de fome, após uma exaustiva jornada por São Caetano, quando decidi parar para um lanche; tencionava visitar mais um cliente naquele dia. Por um triz que eu não passo sem percebê-lo por entre os vendedores de comida; tanto que acabei comprando o lanche em outra barraca. Mal mordi meu “dog”, alguém me chamou, a voz era familiar.
_ Dona Maria Tereza! É a senhora mesma! Como vai?
Olhei para trás, e lá veio aquela mão grossa, sorriso largo, ao meu encontro. Demorei alguns instantes para reconhece-lo, mas era a mesma blusa cinza que tantas vezes me serviu de guarda-chuva quando a “chuva da manga ”me pegava desprevenida.
_ Seu Vergueiro! É o senhor mesmo?
_ Pois é, Dona Maria Tereza; que mundo pequeno.
_ Já faz um tempo que foste embora de Abadiânia... Mas que alegria encontrá-lo forte. Ninguém mais soube de teu paradeiro, homem. Não mandou notícias aos amigos, foi-se embora deixando a gente morrendo de saudades - Dei-lhe um abraço forte.
_ Deve fazer uns doze ou treze anos – parou riso, como se uma lembrança ruim o tomara de assalto. Mas chegue pra cá, pra minha barraca, pra gente prosear um pouco... assim a senhora conhece meu cachorro-quente e descansa um tiquinho.
Eu estava tão feliz por encontrar aquele rosto amigo que aceitei de imediato; o cliente que esperasse.
Fui levada para uma banca de madeira, onde, de imediato, uma bela jovem, lá pelos seus quinze anos, me serviu um copo com suco de laranja.
_ É minha filha, Ana Rosa – apresentou-me, orgulhoso, Seu Vergueiro.
_ Mas que moça bonita, Seu Vergueiro!
_ É, Dona Maria Tereza. Só Deus sabia dessa filha...- postou-se pensativo mais uma vez.
Então, com tudo indo tão bem, resolvi fazer a indiscretíssima pergunta se àquela era a menina que fora leva pela ex-esposa. Quando dei por mim tinha escapado. E daí o negócio foi agüentar. Mesmo percebendo meu constrangimento, respondeu-me cordialmente:
_ É ela mesma.
_ Que legal! Quer dizer que encontrou – segunda gafe em menos de dois minutos. Se ela estava diante de meus olhos, só poderia ter sido encontrada. Mas essa ele passou batido; era um modo de falar, típico de nossa região, que não se atentava a primores lingüisticos e permitia-se certas redundâncias como “entrar pra dentro”; “sair pra fora”; “subir pra cima”; etc.
_ É depois de anos de espera, achei a bichinha. Não é linda?
_ Muito, Seu Vergueiro. Demais!
Durante algum tempo de conversa, onde colocamos em dia os ocorridos em sua ausência de Abadiânia, como: quem morreu; quem casou; quem descasou; quem matou; quem morreu; quem corneou; quem foi corneado; quem teve filhos; quem ficou pra titia; quem quebrou; que enricou; quem ganhou eleição...; ele ria de tudo, matando um pouco as saudades de nossa terrinha. Em seguida contou-me sua estória, desde que deixou Abadiânia.
_ Eu fiquei muito triste quando Armênia me deixou; triste é pouco, fiquei arrasado. Sabe como é: Armênia era ambiciosa, cheia de projetos; queria ficar famosa, àquela coisa toda. Eu sempre fui contente com o que Deus me deu. Só quero viver em paz. Mas ela viu em mim um homem sem futuro. Um belo dia se foi, levando Ana Rosa consigo. Olha, Dona Maria Tereza, nesse dia pareceu que o mundo tinha acabado. Mas agüentei quieto. Confiei em Nosso Senhor, tive fé que um dia iria reencontrá-las. Eu não sei se a senhora lembra do meu amigo de São Paulo, o Doutor Artur Dalvin? Esteve algumas vezes em Abadiânia...não lembra? Não? Bom, durante algum tempo mantive contato com ele, pois ele é delegado aqui em São Paulo, e pedi que ficasse de olho se não via minha Armênia. Certo dia, Doutor Artur me ligou com a notícia de ter encontrado Armênia e a menina numa boate em Pinheiros. Armênia era muito bonita, e não foi difícil ajeitar-se naquele lugar. Não esperei nem mais um dia, peguei o ônibus e me mandei pra cá.
A narrativa foi cheia de tristeza, sua voz se carregava de saudades toda vez que o nome Armênia era pronunciado; mas ao olhar para a filha seus olhos tornavam a brilhar.
_ E nunca mais se casou, Seu Vergueiro? - perguntei, fingindo-me animada, na tentativa de alterar o ambiente. Sua negativa veio seca como um estalo, tornando o clima ainda mais pesado - O senhor é um homem tão bonito, honesto, trabalhador; hão de ter muitas mulheres dispostas...
Ele, percebendo minha intenção, me cortou suavemente:
_ O que é isso..., exagero da Senhora. Eu sou homem de uma mulher só. Não teria coragem de tocar em outra. De jeito nenhum. Se ela um dia ainda me quiser...
Ela era Armênia. Coisas do amor, e que amor!
_ E se adaptou bem com São Paulo, Seu Vergueiro - perguntei-lhe sorridente, trocando o rumo da conversa.
_ No começo foi complicado, a Senhora nem imagina. Mas o caboclo tem que se virar, e eu consegui entender a monstruosidade, Graças a Deus! É claro que minha Ana Rosa me ajudou muito, por demais, Ela é muito esperta, a danadinha.
_ Coincidência vocês trabalhando justamente na Estação que leva o nome de sua filha - observei.
_ É não! Foi escolhido de propósito.
_ Por quê? – em tempo – se quiser me falar, é claro.
_ Pode, pode – apresou-se sorrindo – não tem problema; inda mais pra Senhora, Dona Maria Tereza, que eu praticamente vi crescer. É uma estória bem engraçada, se a Senhora tiver paciência de esperar, eu conto.
_ Mas é claro! Estou ansiosa para ouvir.
E assim, iniciou a estória mais confusa que eu ouvira.
_ Saí de Abadiânia sem nunca ter saído dela . Não tinha a menor idéia de como era uma cidade grande. Não tenho vergonha de falar: nem Anápolis eu tinha ido em toda minha vida. Mas quando Doutor Artur me ligou dizendo que tinha visto Armenia, saí tipo loco. Nem quis saber, vendi tudo e caí na estrada. Já em Anápolis comecei pagando mico. Mal tinha entrado na cidade e fui perguntando: “É aqui que é São Paulo?.” O motorista riu alto. “Olha só, um brincalhão.” Mas eu não estava brincando. Fiquei naquela, sem entender nada. Sorte minha que no ônibus tinha uma dona fina, que ia pra Goiânia e me ensinou comprar a passagem. Santa mulher. Foram dois duas e duas noites viajando, uma tortura que só. Cada cidade que a gente encontrava eu perguntava: “É aqui?” Uma onda. Os passageiros riam pensando que era brincadeira minha. Eu não preguei o olho a viajem toda. Cheguei numa bagaceira, todo quebrado. Em frangalhos desembarquei no Tietê . Uma confusão: ônibus e gente se atropelando por todo o lado. Pareciam que estava fugindo de um dilúvio. Povo apressado. Não me acostumei com isso até hoje. Eta ritmo danado! Uma doidera, Dona Maria Tereza. Nessa altura eu já tava por aqui, sozinho, sem um Cristão pra me ajudar. Mas como dizia min há mãe “quem tem boca vai a Roma”, eu comecei a perguntar. Acostumado com o jeito simples de Abadiânia, onde a gente pedia “onde mora o José” e todo o mundo respondia que era na rua tal, número tal e se chegava num instante; fui até uma loira altona: “A senhora, por favor, me informa onde mora o Doutor Artur Dalvin?” Naquela barulheira toda, acredito que ela tenha entendido que eu tenha falado Artur Alvim. Eu também em enrolei com Alvim e Dalvim, e acabei confirmando que era aquilo mesmo. “O senhor vá até a Estação Sé e pegue pra Corinthias-Itaquera”. “Quem é essa Estação Sé? Quem é essa mulher?” Me olhou desconfiada. “O senhor não é daqueles atores da Pegadinha do Faustão, é?” Eu lá sabia de Pegadinha do Faustão. “Como? Eu não sou na da disso que a Senhora falou. Eu só quero saber onde mora o Doutor Artur Dalvim” Ainda desconfiada, repetiu. “Tá vendo aquela escada rolante? Suba por ela e pegue um metrô para a Estação Sé. Sé é uma Estação e não uma mulher” Entendeu?” Saiu brava, pois achava que eu estava tirando onda com a cara dela. A escada rolante foi mais um experiência nova. Mas me sai bem. Olhei como os outros faziam, mão no corrimão, tranqüilo. Ao chegar no embarque, fui direto à catraca, sem ter comprado o bilhete. Aí dei com o recepcionista. “Ei! Cadê o bilhete?” Ele me falou com grosseria, estava impaciente. Eu não sabia que “trem” era esse bilhete. Fiquei sem resposta. “O bilhete!”, tornou quase gritando. “Por acaso é idoso, deficiente ou coisa assim?” Aquilo me ofendeu. Mal tinha visto o sujeito e ele vinha com toda àquela grosseria? Respondi no mesmo tom. “Sou normal, seu safado. O que foi que deu em você? Eu só quero encontrar o Doutor Artur Dalvin....” Ele me cortou com mais raiva ainda. “Então vá na bilheteria e compre seu bilhete.” Finalmente entendi que era pra comprar a passagem. Fui pra fila uma arara. E quando fico bravo dou pra falar sozinho. Comentei com um moleque na minha frente sobre a falta de respeito do funcionário comigo, um caboclo recém chegado do interior, vindo de uma cidade pequena e coisa e tal; ia entender de bilhete. Em vez de ajudar a gente ficava gritando feito doido. O sujeito, na maior cara-de-pau, concordou comigo. “É verdade, meu senhor. É um povinho sem a menor consideração.” Diante de um aliado, me achei grande e prossegui. “Veja lá o senhor. Eu sei lá o que é bilhete, estação! Estação pra mim é Primavera, Verão, Outono...agora Sé? Isso lá é nome de gente!” Meu “amiguinho” seguiu adiante em suas considerações. “Mas é. O senhor vai ver. Cada estação tem um conhecido esperando, como nos filmes, sabe? Se tiver um conhecido esperando aparece o nome. É Mario, Maria, Conceição... assim por diante. Não tem como errar. Estes idiotas que não sabem explicar nada a ninguém.” Fiquei animado; era mais fácil do que eu imaginava. Bastava olhar pela janela. “Quer dizer que se eu estiver procurando uma pessoa o nome aparece?” “É isso mesmo, fique tranqüilo, é só cuidar quando o metrô parar . Não pergunte mais nada a estes babacas. Vai pelo nome. Morou!” Fiquei agradecido ao bom rapaz. Comprei o bilhete e fui embora. Aliás, o preço do bilhete me pareceu uma fortuna, ainda hoje acho um horror. Mas deixa pra lá. Entrei no vagão e grudei na janela, esperando que o Doutor Artur aparecesse. Logo na primeira para lá estava: Armênia. Imagina a Senhora, Dona Maria Tereza, eu com aquilo na cabeça, achei que minha ex-esposa estivesse a minha espera. Embasbacado, nem dei por mim que o tempo de espera estava passando e o trem começou andar. Comecei à gritar. “Pare! Parem esse trem, agora!” Só que já tinha passado. Bati nas portas feito doido. Entrei em pânico; minha Armênia me esperando e eu indo pra longe dela. Vendo meu desespero, uma senhora se aproximou pedindo se não poderia me ajudar. Rapidamente contei a minha história, principalmente a necessidade de encontrar o Doutor Artur Dalvim e Armênia. Ela entendeu que eu procurava às estações e me aconselhou a ir até Artur Alvin e voltar. “Vai gastar o mesmo tempo” A mulher falava tão macia que fiquei tranqüilo. Fui em frente. Desci na Sé e perguntei prum negrinho como eu fazia pra chegar até Doutor Artur Dalvin.”Artur Alvin, o senhor quer dizer...” Eu já estava todo confuso e respondi positivamente, ignorando o porquê da troca de Alvim por Dalvim, uma confusão. “Esse povo não sabe falar nome direito.” “Esse mesmo.” “Pega pra Corinthias-Itaquera que dá certinho.” E lá fui eu. Pra entrar foi àquela loucura de sempre, empurra-empurra , como a Senhora bem sabe. Meio aos trancos, entrei. Fiquei em pé, lógico, pois sempre tem os espertinhos que não respeitam ninguém, nem velhos e deficientes, imagina um chô como eu. Consegui ficar perto da janela, pra ficar de olho nas estações. E lá se foram PedroII, Brás, Bresser, Belém, Tatuapé, Carrão, Penha, Vila Matilde...; até aí tudo bem. De repente chegamos em Guilhermina Esperança. Pronto. “O que minha mãe estava fazendo lá. Tinham me dito que ela já havia morrido a tempos, pouco depois de me abandonar. E agora ela me aparece sem mais nem menos! Desci depressa. O que Deus me reservava naquela cidade maluca? Minha filha, minha esposa e minha mãe, todas me esperando. Vai ver que ficaram com tanto medo que eu me perdesse que ficou uma em cada estação. Já fora do trem fui até um moço que lia a Bíblia . “Cadê minha mãe?.” Ele me olhou de cima embaixo, olhão arregalado. “Quem é sua mãe?” “Guilhermina Esperança Vergueiro, ora!” “Eu sei lá onde está sua mãe. Se tu não sabes, menos eu.” Já estava me irritando com aquele povo burro. Que gente mais lesa! Devia ser a poluição que estava travando o cérebro. “Não está vendo a placa? Aí ó: Guilhermina Esperança.” Levantou-se com a cara mais feia do mundo. “Sua mãe uma ova! Seu filha da ....” Não teve tempo de terminar seu elogio pois seu trem chegara. Fechou a Bíblia e se mandou. Olhei para todos os lados e ninguém vinha até mim. Não agüentava, precisava encontrar Doutor Artur para entender aquela loucura. Peguei o outro metrô e fui. Em poucos instantes estava na estação Artur Alvin. “Esqueceram o D. Eta povo esquecido.” Desci e pedi informações a um velhinho. “Procuro o Senhor Artur Dalvin, conhece? “ O velho me olhou espantado. “Quem?” Apontei a placa para o surdo. “Esse aí da placa.” “Esse aí, é?” Riu alto. “Esse aí já morreu faz tempo.” “Morreu! Mas eu falei com ele por telefone não faz três dias.” Mais risos. “Não diga. Não falou com o Machado de Assis também?” Saiu gargalhando, me deixando totalmente aéreo. Um funcionário do corpo de segurança, aqueles de preto, me pediu se não podia me ajudar. Desconsolado, confessei que procurava minha filha, Ana Rosa, uma garotinha que o Doutor Artur tinha encontrado. “Mas ele iria esperar o senhor aqui?” eu estava perdidinho. Sentei num banco, desconsolado. O guarda insistiu. Num ímpeto, perguntei-lhe se conhecia Ana Rosa. “Mas claro, aqui todo o mundo conhece Ana Rosa.” “Sério? Então o senhor sabe onde encontrá-la? “ “É claro. É só voltar pra sé e pagar sentido Jabaquara.” Abracei o homem emocionado e me mandei para Ana Rosa. Posso até ver o guarda gritando atrás de mim: “É depois de Paraíso.” Cheguei aqui com a certeza de encontrar minha filha. Desembarquei já era noite, e ao colocar o pé fora do metrô dei de cara comum grupo de meninas, todas com seus doze anos, eu acho. Quem sabe dentre ela estaria minha “bichinha”. Agoniado gritei, alto e forte. “Quem de vocês é Ana Rosa?” Ninguém respondeu. Repeti. Me olharam desconfiada. Alguém murmurou. “Parece que está bêbado.” Fui a um moço, logo na frete da plataforma e perguntei se conhecia Ana Rosa. Ele me disse que não. Expliquei suas características físicas. Não, não conhecia. Mas tinha me dito que todos a conheciam, e agora ninguém sabia da menina! Pacientemente ele me explicou que estávamos em São Paulo, uma cidade com vinte e cinco milhões de habitantes e quem disse que conhecia Ana Rosa, provavelmente estava se referindo à Estação Ana Rosa e não a minha filha. “Quer dizer que o nome nas placas são os nomes da estações?” Ele confirmou. Fiquei na minha; imagina a Senhora se eu contasse do espertalhão. Veja, Dona Maria Tereza, com tem gente má nesse Brasil. Daí que eu entendi a confusão toda. Também com nomes tão parecidos! Mas e agora, como encontrar o Doutor Artur? “Esse seu amigo é delegado?” “É.” “Onde?” “No Tietê.” O moço riu com toda a graça de minha miséria. “Mas homem de Deus! Tu estavas na porta do homem e fez todo este rodeio. Volte de onde saiu e vá até a Delegacia do Tietê. Fica no Terminal mesmo.” Deduzi que se tinha tanta gente nessa cidade, devia ter um número enorme de delegacias. A única maneira de encontrar o Doutor Artur era arrumar uma confusão e ir preso. Com esta idéia na cabeça voltei para a Estação Tietê. Iria à desforra com aquele sujeitinho sem CPF. Ele estava lá, no mesmo lugarzinho, cuidando de seu trabalho. Cheguei de frente com o caboclo e sapequei. “ Ei, seu cara de merda.” Ele me olhou na cara dura. “Você!” “É, eu mesmo. Quero ver se tu é homem pra me chamar daquilo de novo. Sua puta!” tive sorte que ele estava num dia péssimo, o que ajudou, e muito, a ele saltar a catraca e vir na minha direção. Foi um rolo danado . O caboclo não era tão forte, o que deu tempo pra eu dar umas porradas nele, antes de ser detido pelo corpo de seguranças e levado à PM. No caminho para a delegacia eu gritei feito doido pelo Doutor Artur. Depois de tanto desencontro a sorte me sorriu. Um dos policiais conhecia o Doutor Artur e ligou dizendo que tinha um maluco nordestino gritando por ele. Veja só, Dona Maria Tereza, me confundiram com nordestino. Quando o Doutor soube, confirmou que eu era seu amigo, que ninguém tocasse em mim e que fosse levado até ele imediatamente. Bom, daí pra encontrar Ana Rosa foi fácil.
Ao final de sua narrativa rimos juntos.
_ É uma história e tanto, seu Vergueiro – ponderei.
_ É, Dona Maria Tereza; dava até um livro.
_ Dava sim - concordei animada.
_ Ainda mais a Senhora que é das letras, vai fazer um livrão – emendou.
_ Vou pensar com carinho.
_ Olha, tá saindo um concurso aqui no metrô, parece que é de contos e poesias; Ana Rosa quem me falou. Ia ser ideal, não é mesmo?
_ Mas que boa idéia! Vou escrever sim.
_ Que bom...
_ Bem seu Vergueiro, eu vou indo. Amanhã eu passo por aqui pra mais um papo e discutir-mos sobre o livro. Preciso de maiores detalhes.
Ele me olhou carinhosamente, como a pedir sigilo:
_ Amanhã dá não. Eu e Ana Rosa vamos para o Spear ver Armênia.
O Spear é uma casa noturna em Pinheiros, onde Armênia é a estrela principal.

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