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Artigos-->OS MINI POEMAS DE MENINA SÓ -- 12/09/2024 - 08:17 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

OS MINI POEMA DE MENINA SÓ



L. C. Vinholes



11.09.2024



O amigo compositor e poeta Gil Nuno Vaz, sempre interessado nos meus poemas – talvez reciprocidade à minha curiosidade pelo que ele, incansavelmente, faz e cria em música e poesia -, apontou a diferença formal que os mini poemas do meu polievroma têm com o que figura no texto de introdução da minúscula antologia menina só.



Polievroma, neologismo que já foi creditado como de origem grega, nada mais é do que o entrelaçamento das sílabas de livro com as de poema, é o nome que dei à coleção menina só de vinte e cinco mini poemas, com edição de 1.000 exemplares, impressa em 27 de outubro de 1994. pela Gráfica Palas Athena, de São Paulo, de Massao Ohno.



Este trabalho começou a partir de 1962, quando me interessei por criar algo minimalista, de estrutura e forma simples e pequenas. A prática da leitura e feitura das quadras e tercetos tradicionais da literatura ocidental e a incursões pelo mundo dos haicais, principalmente dos publicados na antologia de 1936, Obras-Primas da Poesia Japonesa Antiga e Moderna, de Asataro Miyamori, me despertavam o interesse pelas coisas concisas. Esse interesse pela concisão e pelo minimalismo já se fazia presente nas minhas obras para trio de cordas, intituladas Tempo-Espaço I e II, as primeiras escritas em 1956 com base nos princípios teóricos de composição musica por mim elaborados, com duração de menos de um minuto.



Por outro lado, a presença constante do ideograma = ko – significado cria, criança, por extensão também menina -, na quase totalidade dos nomes femininos japoneses, foi vista por mim como um denominador comum, um elo precioso entre todos os outro ideogramas, variados e ricos em formas e conteúdos que compõem um universo singular. Além disso, os valores pessoais das portadoras dos nomes adrede selecionados, constituíam um novo ingrediente a ser somado àqueles do significante.



No menina só as páginas com os poemas são intercaladas com páginas nas quais uma nuvem que, no início é formada por 26 silabas e que diminui uma a uma, até ficar com um só depois do vigésimo quinto poema, assim justificando-se metade do título da antologia.



A primeira experiência teve como resultado o que mostra o poema que figura no texto de introdução, à guisa de prefácio e que como bem observou Gil tem apenas quatro “versos” enquanto os demais, nas páginas internas tem cinco versos, quarto verso sendo o registro de algo que identificava/qualificava a portadora do nome que enriqueceu a antologia. Vejamos:



 



a cerejeira



o arrozal



 



melodia



 



menina autêntica



 



Este mini poema apareceu pela primeira vez na edição xerox da minúscula antologia “a gui(n)sa[i] de despedida” que editei e distribuí, às vésperas da minha partida do Japão para o Canadá. Vejamos outros três mini poemas, de julho de 1977:



 



a          flor



o         prado



 



o         sonho



           



           menina feliz



 



 



o         verde



a          montanha



 



a          beleza



 



                                                                       menina sábia



 



 



                                                                                                                 o         pinheiro



                                                                                                                  a        ladeira



 



                                                                                                                 a        dança



 



                                                                                                                              menina alegre



 



Dá mesma época são rascunhos de mini poemas de quatro versos que dormem esquecidos nas primeiras páginas da útil caderneta de capa verde que ganhei na visita que fiz ao escritório da Toyo Menka Kaisha Ltd., no prédio onde também funcionava o escritório de representação da Comissão de Compras de Tokyo (CCT) da Usina Siderúrgica da Minas Gerais, na qual trabalhei de setembro de 1958 a junho de 1961. Desses mini poemas, escolhi dois nos quais os dois primeiros ideogramas do prenome de nomes por mim selecionados remetem à típicas paisagens no interior do Japão e o quarto verso abriga a imaginação do poeta.



                                                                              



a          vila                 (mura)             a           ladeira                   (saka)



o         pinheiro         (matsu)            o          verde                     (midori)



 



o         céu                   (sora)             o           sonho                   (yume)



 



           menina perfeita                                                     menina feliz



 



Apenas para deixar registrado, vale a pena informar que, em meados de 2000, a Revista da Academia Brasiliense de Letras, no exemplar Ano XVIII, nº 16, publicou uma série dos mini poemas, sendo essa a última vez que eles estiveram à disposição dos leitores brasileiros.



 



menina só e Kenzo Tanaka



 



Finalmente, por justiça e para reconhecer merecimento, não posso deixar de fazer referência Kenzo Tanaka autor de quatro das seis versões gráficas do sumi-ê[ii] do hiragana[iii]  = ko, que ilustram as capas e contracapas da mini antologia menina só.



O curriculum de Kenzo Tanaka, resumidamente consta desta mini antologia, mas também é objeto do artigo KENZO TANAKA, Sumi-ê, Menina só, poetas e artistas do Brasil, publicado em 5 de dezembro e 2023, no site usinadeletras.com.br. Tanaka nasceu em Osaka em 1918, visitou Pelotas pela primeira vez em 1969 onde foi construída a Praça Jardim de Suzu[iv], projeto de sua autoria de parceria com o paisagista Tadao Tsujiguchi. Em 5 de novembro de 1994, foi condecorado com a Medalha do Mérito Cultural, pelo Governo do Distrito Federal, quando foi curador da mostra Sumi-ê Pintores Japoneses, no Museu de Arte de Brasília. Lutando contra Alzheimer, Tanaka que passou a morar com seu filho Shosuke Tanaka terminou seus dias na cidade de Tsuyama, Província de Okayama. Registre-se que, em 1957, levei para o Japão o quadro a óleo doado por Samson Flexor e que logo foi entregue a Kenzo Tanaka, mas que voltou definitivamente ao Brasil, em setembro de 2013, quando, em companhia de minha esposa Helena Maria Ferreira, participamos das comemorações dos 60 anos da celebração do elo de fraternidade entre Pelotas e Suzu, as primeiras cidades irmãs entre os dois países. Às vésperas de minha despedida, Shozuke concordou em doar o quadro de Flexor ao Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo de Pelotas, onde presentemente se encontra, conforme documenta a foto publicada à páginas 122 do Catálogo do museu, de 2017.



As seis versões gráficas do sumi-ê de Kenzo Tanaka, em 12.12.1994, foram exibidas no Salão Frederico Trebbi, hall de entrada da Prefeitura de Pelotas, concomitantemente com a mostra Sumi-e: Mestres Japoneses, com obras de Kenzo Tanaka, Hideko Fujimori, Harumichi Sakata e Toha Hideshima, bem como em 08.05.1996, por ocasião do lançamento da antologia menina só, foram expostas no Foyer da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional de Brasília.



 



Eventos inesperados



Com pesar, registro que na primeira edição de menina só, em 10.11.1993, o editor Massau Ohno não seguiu à risca a boneca que lhe foi entregue, razão pela qual teve que refazer uma segunda edição em 27.10.1994, atraso que inviabilizou o programado lançamento da antologia por ocasião da inauguração da exposição Sumi-e: Mestres Japoneses, no Museu de Arte de Brasília, em 03.11.1993, com a presença do Ministro da Cultura Eduardo Portela.



Em separado, apraz-me ainda informar que, embora o lançamento da mini antologia não tivesse ocorrido, o dedicado jornalista Gilberto Amaral do Correio Braziliense, noticiou o “êxito do lançamento do polievroma menina só”.



 



                                                                                                                                                                                                                



 



 



 



 



 



[i] Ginza é o nome pelo qual é conhecida a principal área central de Tokyo.





[ii] Sumie, (sumi = = tinta preta e e = quadro, pintura) tipo de caligrafia escrita com pincel e sumi.





[iii] Hiragana é um dos dois grupos de 27 sinais fonéticos usados parta escrever sílabas





[iv] Leia os artigos O Jardim de Suzu e Ainda o Jardim de Suzu, publicados em 29.03.2008 e 18.08.2008, no site usinadeletras.com.br.




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