Chegas aos poucos, suavemente,
Como a noite vem, no fim do dia.
A princípio, quase não percebo
Que tu me envolves, qual melodia
Que se ouve ao longe e nos encanta,
Enchendo-nos a alma de alegria.
Eis-te aqui.
De mim tu te acercas lentamente,
Como se não quiseras ser notada.
Sei que algo há de diferente,
Sem que, no entanto, quase nada
Tua sutil presença denuncie,
A não ser minh’alma, enlevada.
E não te vi.
Com o poder que tens, na realidade,
Tomas conta do meu ser e me dominas.
E, com espanto, falo do que não conheço,
De coisas que não sei e tu me ensinas.
Escrevo, sem notar de onde vieram,
Verdades indiscutíveis, cristalinas,
Que aprendi.
E só então, depois que chego ao fim
Da estranha e inesperada descrição
Das coisas que, sem que eu soubesse,
Puseste dentro do meu coração,
Consigo, finalmente, entender
Que foste tu que vieste, inspiração.
Já te senti.
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