ENTRISTECER-SE
Débora Cristina Denadai
Estou triste. Muito triste.
Bela maneira de começar um poema.
Ora bolas, os poemas às vezes são tristes,
então porque devo eu , que estou mesmo muito triste
ter que manter minha tristeza à boca pequena
pra não estragar o poema.?
Não sei. Não vejo razão. Também não quero ver.
Além do mais, a maior parte da minha tristeza
é não achar minhas mãos para poder escrever.
Tá. Elas estão bem aqui, na ponta dos meus braços
só que não conseguem, e eu sei lá por quê
dizer, repassar, descrever
onde foram parar meus abraços.
Abraços tão grandes, tão calorosos, tão abraços
que eram verdadeiros amassos.
Meus beijos, ora, se foram com meus abraços
No vazio que deixaram, e sempre deixam um vazio,
e um coração em bagaços.
Estou triste. Muito triste.
Lamento se minha tristeza voraz
pode, em algum momento
atrapalhar a quem está alegre e em paz.
Mas é triste estar triste
e não achar as mãos pra escrever,
as palavras pra dizer
o tamanho do entristecer.
Não sei mesmo o que fazer
melhor parar de encher
as linhas com tanta tristeza,
procurar outras palavras
que, tristes, tragam beleza,
que embelezem o dia,
o pôr-do-sol, o alvorecer,
que possam trazer alegria
a tão grande entristecer.
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