NADA A DECLARAR
Débora Cristina Denadai
Hoje ao acordar,
pregou-me um susto o espelho.
Uma mulher muito feia,
olhos inchados, nariz vermelho,
do outro lado a me olhar...
Achei que ainda era cedo,
que ainda dormia, sonhava,
que medo!
mas ela ainda lá estava.
Olho de novo e nada.
Continuava a danada
do outro lado, atrevida,
com uma cara debochada
a me dizer:
És tu, mesma cara amiga!
Vês? Sou eu o resultado
das tuas noites mal-dormidas,
do teu amor mal-amado,
do teu tempo gasto a pensar
o que mais se pode fazer
para fazer-se amar...
Vês? Sou o que conseguiste
nas tantas vezes em que fugiste
ao recanto particular de teus sonhos.
Produziste um ser medonho,
e agora, eis aí,
o que és está aqui.
Nada tenho a declarar.
Nada tens a reclamar.
|