Quando me disseram que São Paulo era um mundo à parte, julguei haver exagero em tal afirmação. Porém, morando aqui vejo que é correta a propaganda. Sendo um mundo à parte, sobram motivos para se escrever. Então tenho dispensado bastante tempo, e tinta, para esta cidade. Quem não deve estar gostando nada é a Prefeita Marta Suplicy, que teve a infelicidade de ganhar a eleição no ano em que mudei-me pra cá. João Paulo, de Recife, queria me ver longe. Marta deve estar ligando para o colega petista pedindo qual a fórmula para me fazer sumir.
Usei dois dias, segunda-feira e terça-feira, para fazer minhas carteiras para usar o transporte coletivo gratuitamente. Acordei 5:30 h , frio de lascar, e enfrentei uma entrevista com um Assistente Social, que teve o trabalho de preencher uma ficha e mandar que eu voltasse no outro dia, Ã s 6h. Como os ónibus estavam em greve, peguei um perua clandestina, que me fez chegar oito horas no Posto de Saúde. O médico me atendeu, afinal ele também atrasou-se e com grande dedicação carimbou e assinou meu laudo, dizendo que eu sou portador de necessidades especiais, portador de sequelas de Pólio, CID B91. Isso levou dois minutos. Daí, usando mais lotações, consegui chegar ao final do dia com minhas carteiras. Uma eficiência e tanto, mesmo com todos dizendo que não ia dar mais tempo.
A greve dos motoristas de ónibus gerou o caos. Gente atrasando, correndo feito doido, lotações entulhadas, o metró totalmente cheio; uma confusão. O objetivo dos grevistas é receber o que já ganharam na Justiça, depois de outra greve. Os empresários se recusam à pagar o que já deveria ser pago a dois meses, uma falta de respeito à s leis. À margem desta pendenga o povão paga o pato.
É claro que a Prefeitura jogou a culpa nos empresários, que por sua vez devolveram para a Prefeitura, alegando o baixo preço da passagem. Eu tenho convicção que a culpa é de ambos. A Prefeitura tem o poder para exigir os ónibus nas ruas. As questões com funcionários destas empresas não podem continuar prejudicando milhões de usuários. A Secretaria de Transportes poderia retirar o direito de uso das empresas infratoras. Quanto ao preço da passagem é até hilário ouvir-se reclamações quanto ao preço. Eu levei um susto quando soube do preço em São Paulo. É a mais cara do país e com a pior frota. Nem no Maranhão se tem carros tão ruins. Ónibus sucateados; demora irritante entre os horários - o que leva a ter-se carros superlotados - gente se empurrando, amontoados feito porcos. Paga-se caro por um serviço altamente desqualificado.
Um motorista de lotação me contou como funciona o sistema. A SPTrans exige dos alternativos carros novos, que custam no mínimo R$ 56.000,00. Como eles não tinham dinheiro para cumprir a exigência, a maioria financiou cerca de R$ 36.000,00, restando prestação de até R$ 3.000,00 mês, a serem pagas em três anos. No final deste período, por conta do péssimo estado de conservação das ruas, o veículo estará acabado, exigindo uma troca e um novo financiamento, já que o carro não valerá mais que R$ 20.000,00. Ele precisa pagar três seguros, que custam mais R$ 2.000,00; impostos sobre a linha, mais quinhentos; e fiscais para controlar o trànsito. Sem falar no cobrador e na manutenção, que certamente levam outros R$ 1.500,00. Mesmo assim resta um lucro de R$ 3.000,00, nada mal. O que irrita aos perueiros é que os seus carros tem que estar impecáveis, passando por uma vistoria mensal, enquanto os ónibus são um escàndalo, e a SPTrans faz vista grossa.
A segurança e o transporte coletivo são as chagas desta cidade, serviços desqualificados ao extremo. Mas como dizem os doutos, cada povo tem o governo que merece. É a mais pura verdade, pois se o paulistano tivesse respeito por só próprio - incluindo este que vos escreve - não se deixaria sacanear como se deixam. Iríamos todos até a porta da Prefeitura e do Palácio Bandeirantes cobrar respeito. Mas não o fazemos. Então bem feito pra nós.
E o Brasil já é vice. Vou engolir o Felipão, com todo o prazer
