Não tente ser maior do que a poesia, poeta.
A poesia é bela, é livre, sensacional de palavras,
E de possibilidades, pois transforma.
Você, poeta, é o canal, a conexão, a antena
De carne e osso e coração
Caixa que ampara a poesia que voa, a emoção.
A poesia é o espírito, um passe de alívio,
A poesia é grito, manifestação, muda de rosa,
Silenciosa oração, sangüínea misteriosa.
Poeta, você é simplesmente poeta,
Com pernas e braços e contas a pagar
Um ser especial recrutado pelas palavras.
A poesia passa por você sem dono,
Despossuída te arrebata efêmera passa
Flâmula voa asa e pousa palavra e inspiração.
Você, poeta, depois do transe, volta a ser gente,
Operário, fez a tua parte na criação,
Mas não pense ser o dono da poesia
A poesia não tem dono não, como também
São livres a alegria, a dor, a emoção,
Pois são feitos de humildade
E você, poeta, sinceramente, não é humilde não.
No teu momento de palco busca o aplauso
A atenção da população, o êxtase.
Usa a poesia que não te pertence,
Usa a vitamina da imaginação emprestada.
Sim, poeta, você é feito de gente
E a poesia tem carne encantada.
Você é feito de vaidade e não entende
Que o teu show particular compromete
A alma da poesia imaculada.
E se um dia ela surgiu em você por merecimento,
Amanhã, em você, não haverá mais esse momento.
E você, poeta, compreenderá, o vazio,
Pois terá como enchimento, o nada.
A poesia, poeta, não é troféu,
É um instrumento feito com o azul do céu
Cimentada com tijolos de palavras.
Não mate a poesia, poeta, não mate a ave rara.
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